quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Brincando com Espelhos

Sem muita paciência para os jogos habituais, peguei uma folha de papel em branco. Com o lápis e duas linhas, dividi a folha em quatro retângulos quase iguais e, em cada um deles, desenhei um número que ela pintou de vermelho. A brincadeira que propus consistia em contar uma história em quatro partes com ilustrações. Fiz o desenho no retângulo que tinha o número um e Alice ditou a primeira frase. Nós revezamos os lápis de cor e eu traduzi em letras toda a imaginação dela. No fim tínhamos três histórias. A terceira tinha três partes e a folha dividida em triângulos; criação minha, ali um menino e um porco eram amigos e gostavam de futebol. A versão dela apareceu no dia seguinte, com trapézios definindo os espaços e celebrando a amizade de uma menina com uma vaquinha. Ela mesmo desenhou as figuras e as letras que eu soletrava. Entre um quadro e outro, aprendeu a copiar, no modo arcaico do ctrl-C, ctrl-V, com os olhos: menina é igual a menina, se já escrevi não preciso perguntar de novo; e vaca é V-A, va, C-A, ca. Simples assim.

Na estante de livros que fica no quarto dela, no meio de tantos, fica aquele que eu escrevi: em folhas dobradas e grampeadas, está a menina que comia livros, com textos e ilustrações do papai, tiragem de exemplar único, em edição exclusiva da filhinha. A menina do conto tem medo de monstros, come os livros mas não leva os malvados para o estômago. Eles ficam na cabeça dela a noite inteira. Com lápis e papel, o pai traz a solução: escrever uma história, que ele inicia e ela termina: comendo os monstros para ter belos sonhos. Na última página, o pai realiza seu sonho, escreve um livro. Agora, Alice repete a personagem, quer também ser corajosa como o pai (sic) e publicar o seu. O título é quase óbvio: a menina que gostava de comer canetas (ela é geniosa, um tanto nervosa; imagine o estado da tampa de caneta que sobrar em suas mãos). As dobraduras e os grampos se repetem; também a letra A, que vira um chapeuzinho para a protagonista na capa. Os sete quadrinhos da história se condensam em uma única página: ali chovem canetas, que a menina busca na geladeira; ali o pai proíbe e a mãe autoriza. Nas outras folhas, dois contos menores: um desejo de chuva e outro, de moedas. Contrariando a lógica, lê-se da direta para a esquerda, espelhado. E o fim de cada história ocupa, em letras graúdas, páginas inteiras.

A brincadeira dos espelhos não termina com Alice. Com eles, recrio versões das nossas versões, como imagens repetidas infinitamente. Aqui os espelhos são feitos de ideias, papel e ocupam a tela de computador. Não há espaço para figuras, mas as formas e as cores se encontram na imaginação de quem lê.

2 comentários:

  1. Quero ler os livros dessa família! Acho um barato esse estímulo a criatividade nos filhos. É isso aí, Alice vai longe! ;)

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  2. De pequeno e que um gênio se desenvolve!
    Siga em frente, pequena "genia" Alice...

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