quinta-feira, 18 de abril de 2013

Pedras, Pratos e Outros Bichos

Fiquei muito surpreso quando me disseram pela segunda vez em menos de uma semana que o rim é o órgão do medo. Estava de novo num consultório, mas aquela não era uma sessão de terapia.

Eu vestia apenas uma cueca amarela e um avental azul que, aberto na frente, não cobria grande coisa. Estava deitado, de barriga para cima, enquanto a médica apertava o aparelho gelado contra a minha bexiga e me fazia perguntas. À primeira delas, respondi que estava apertado, mas dava para aguentar. Ela apontou então para o monitor para mostrar a bexiga cheia e o fluxo da urina, sem obstáculos, em direção à uretra. Confirmou o que a ausência de dores já indicava: a pedra tinha sido expelida.

Quando voltei do banheiro, ela se concentrou nos rins e acabou encontrando outra pedra, também pequena e que ainda permanece quietinha no lado esquerdo. Veio então com a tal história da medicina chinesa e dos órgãos relacionados às emoções. Parecia curiosa sobre os meus medos. Era simpática, e eu não me importei de contar como tinha sido a minha última sessão de terapia.

Naquela sessão, expliquei, a imagem que se formou na minha mente foi a do equilibrista que precisa manter os pratinhos rodando. E as reflexões em torno da imagem me levaram ao maior dos meus medos: o fracasso. Concluímos que a queda de qualquer um dos pratos seria suficiente para caracterizar o meu insucesso. Por isso, para manter os pratinhos rodando, estou sempre atento, não costumo relaxar e agora produzo pedras.

Mais tarde, tentando aprofundar a questão, fiquei imaginando quais seriam os pratos do equilibrista e como eles apareceriam em sonho: os mais delicados, de muitos sabores, frutos do meu amor por uma mulher e uma menina; o mais pesado, de arroz, feijão, da responsabilidade profissional e financeira; o menos previsível de todos, da sopa de letrinhas e da espuma criativa. Pensei ainda em pratos sobre o quais não tenho qualquer controle, mas não saem da minha vista e ficam na borda da mesa – pratos com cheiro de infância.

Procurando diversão, lembrei-me de Hogwarts, das aulas do Professor Lupin, dos alunos enfrentando seus medos. Revi a imagem do equilibrista, vi os pratos caindo, pensei num feitiço. Ridículo!

Não menos ridículo foi o que me aconteceu dias depois. Eu quase esqueci a dor extrema que enfrentei com o cálculo renal quando tive que passar pela tortura insuportável da coceira causada por um bicho folgado, que desenha caminhos através de pequenos túneis sob a pele. Um bicho geográfico, que não faço a menor ideia de como tenha parado aqui no meu polegar; ou ali, deixando a marca de um raio, igual ao do Harry, no lado esquerdo da minha barriga, naquela curva simpática que costumam chamar de pneu.

Sei que agora, buscando ajuda da medicina tradicional ou chinesa, da feitiçaria britânica que seja, tenho que cuidar do óbvio: se o equilibrista cair, ficam as pedras, os bichos, mas talvez não sobrem os pratos que contam a minha história.