quinta-feira, 31 de março de 2011

A Vendedora de Queijos

Fazia parte dos meus sonhos refazer a viagem pelo litoral da California com um pouco mais de calma. Com as melhores companhias do mundo, realizei em três noites: a primeira, em Carmel, em seguida à visita ao Aquário de Monterey; a segunda, em Solvang, depois de muitas horas de inesquecíveis paisagens abençoadas pelo sol, intercaladas por momentos de alguma neblina; a terceira em Santa Barbara, após uma indisposição que acabou prejudicando o dia.

Em Monterey, repetimos a visita feita sete anos antes, agora com Alice, que se apaixonou pelas lontras e, com alguma hesitação, colocou o dedinho em pepinos e estrelas-do-mar. Chegamos anoitecendo a Carmel para conhecê-la na manhã seguinte. Começamos pela loja de queijos, muito bem recomendada. Provamos de tudo um pouco, compramos alguma coisa para comer no resto da viagem ou trazer para casa. Alice se deliciava com as lâminas que a atendente oferecia. Tanto que o dono, muito simpático, convidou-a para voltar de avental quando completasse dezesseis anos. Na loja ao lado, escolhemos alguns apetrechos de cozinha. Seguimos pela praia, parando para fotos, até a Missão de Carmel.

Já enfrentávamos as curvas da estrada de Big Sur, quando a fome nos obrigou a improvisar. Paramos o carro, abrimos o Brillat Savarin (dentre os queijos comprados, o mais parecido com o preferido da Alice: aquele branquinho...), um pacote de biscoitos e estreamos a faca nova. Mais tarde, a pequena dormiu e, quando acordou, passou a reclamar da demora e do balanço. Riu um pouco com a cidade Gorda e, depois de uma parada estratégica em Ragged Point, aceitou a troca do sonhado DS, comprado em San Luis Obispo, por mais uma hora de viagem até Solvang – um simpático cantinho dinamarquês, que acabou conhecido como a cidade fofinha.

No dia seguinte, a caminho de Santa Barbara, as curvas combinadas com mais alguma coisa me fizeram mal. Do píer fomos para o hotel, onde fiquei sozinho assistindo a episódios de um reality show de maquiadores, que criavam monstros e alienígenas, enquanto as meninas passeavam.

Melhorei durante a noite e acordamos, de novo, com o pé na estrada. Dali para Anaheim era um passo, mais algumas horas de trânsito em torno de Los Angeles. O país das maravilhas se aproximava. E, no caminho, Alice nos confessava que gostaria de ser cantora ou vendedora de queijos! Planos para 2021...

terça-feira, 29 de março de 2011

Ease on down the Road

A semana deles foi muito atribulada: Bruno trabalhando muito, inclusive no domingo; Marina ensaiando para a peça que aconteceria no sábado; Laurie se desdobrando para dar conta de tudo, inclusive nós. Tivemos menos tempo com eles do que gostaríamos, mas procuramos aproveitar todo o minuto possível. A volta de nossos passeios em San Francisco tinha que coincidir com a chegada das crianças.

Foi assim desde o primeiro dia: do aeroporto para a Best Buy, comprar a câmera, e para a Target, atrás do booster. Quarta-feira ótima, no Academy of Sciences; quinta, com chuva, no Fisherman’s Wharf; e sexta, também com chuva, mas de mensagens nervosas do Brasil por causa da ameaça de tsunami, no Exploratorium, em Chinatown e no passeio muito turista de Cable Car.

Ao contrário deles, para nós, os dias foram tranquilos, de um jeito ótimo para começar as férias que teriam ainda as maratonas intermináveis de estradas e parques de diversão.

E o idioma não foi barreira alguma. Os beads e as artes com colas coloridas eram as brincadeiras que uniam as três crianças. Marina entendia o que Alice dizia e nos brindava com uma leitura à noite, em português com um sotaque maravilhoso. Passava horas fazendo tererê (ou tededê) no cabelo da Alice. Diego não fazia questão de mostrar que entendia o português até perceber o quanto Alice gosta do Darth Vader (e ceder os lençóis do Star Wars) ou lembrar que para quer dizer stop. Esperou o domingo, nosso último dia em Fairfax, para desfilar seus conhecimentos, mostrando que sabia falar papai, momõe e, claro, bumbunzinho!

O programa de sábado era uma das apresentações do Mágico de Oz – uma superprodução da comunidade local. Perto da hora do almoço, um piquenique no gramado ao lado da Playhouse foi a melhor e mais divertida alternativa. Comemos enquanto Marina se preparava e Bruno chegava do trabalho. Por trás da síndrome de Hollywood, havia muitos aspectos interessantes na peça. As crianças não atuavam apenas; trabalhavam em tudo: da iluminação à montagem dos cenários. Eram muitas, mais de cinquenta, o que gerava certa ansiedade pela busca do rostinho da Marina e muita expectativa pela sua participação. Os protagonistas cantavam (mal) sem medo. E isso nos ajudou a entender um pouco a cara de decepção e as reações de alguns aspirantes a American Idol. Mas, que importa, se o Espantalho fazia valer o dia?

Foram quase duas horas de show. No intervalo, Alice e Diego desceram as escadas sozinhos, de mãos dadas, para comprar cookies. Lindo! Na volta, Nane perguntou se alguém tinha falado com ela. Alice não hesitou: sim, aquela moça ali, apontou. E o que ela falou? Não sei, ela falou em inglês. Óbvio... De lá, Marina teve seu esforço recompensado: fomos tomar sorvete de iogurte.

A parte família da viagem terminou com um jantar thai, em casa, no domingo, que teve passeio a Sausalito e mais sorvete (de amêndoas e limão... hummmm). Dali, seguimos viagem na segunda, rumo a Monterey e às bruxas do sul, com a música que ainda toca em nossas cabeças: ease on down... ease on down the roaaaad.