sábado, 28 de novembro de 2009

Mania de Peitão

Eu não sei parar de te olhar! Não, não sou tarado. No máximo, assanhadinho. Mas isso não vem ao caso. Seu Jorge, preciso de sua ajuda. Você parece entender bem do assunto: mania de peitão.

Como explicar que uma menina de 4 anos queira um sutiã de presente? Ainda bem que Papai Noel só dá um presente por aqui. Os outros são nossos, dos avós, das tias. Ele ficaria encabulado. Com armação de silicone? Não, claro que não. Menos, Seu Jorge. Pelo menos, por enquanto, acho.

Domingo passado eu estava brincando de massinha com ela. Fiz o papai e a mamãe. Em seguida, veio o primeiro pedido: faz Alice do seu tamanho, pai? Bem, não sei o que esperar, mas será que Alice adolescente já me olhará de cima? Tudo bem, fiz a menina grande exatamente do meu tamanho.

Teve mais, depois. Desta vez, o pedido era pra mãe. Pedido de autorização. Tipo colocar na agenda da escola. Mãe, pode ter peitão? Não coloquei os peitões. Minha habilidade não chega a tanto; minha compreensão também não.

Mania de peitão, seu Jorge! Explica pra mim.

domingo, 22 de novembro de 2009

No Machimbombo

Era uma sexta-feira de Zumbi dos Palmares. Alice passava o dia com a avó e Nane traduzia. Sozinho, fui a Moçambique encontrar Muidinga que me aguardava no machimbombo para ler os cadernos de Kindzu. A Terra Sonâmbula ainda resistia em única sessão no Estação Botafogo e, dez meses depois, eu precisava reencontrá-la.

Na literatura, as personagens que me apaixonam são crianças. Depois que soubemos que teríamos uma menina, o nome de Alice ganhou tanta força que juntei muitas delas num texto que distribuí para os amigos. Muidinga não estava entre eles. Hoje estaria, contando abensonhadas estórias. Talvez no Campo Geral, com Miguilim.

As crianças me levam aos livros, e estes, às crianças. E todos, ao cinema. Em Mutum, aliás, perdemos muito quando trocaram Miguilim por Thiago e Dito por Felipe. Perdemos nós que choramos quando Dito se foi e quando Miguilim ganhou seus óculos.

Muitas vezes são os livros e as crianças que me mantêm desperto. Ainda assim, leio menos do que gostaria, tenho menos filhos do que gostaria. Às vezes, os filhos dos meus amigos me bastam. Outras vezes, leio Alice para Alice. E, quando ela permite (não é sempre), escolho a Bruxa Fofim e as princesas que soltam pum. Um dia lerei as caçadas para Pedrinho, meu afilhado.

Preciso dos livros e das crianças, porque sonho para contar os sonhos. Como Nimi, nas profundezas do bosque. Também porque gosto de fabricar brinquedos com palavras. Como Manoel de Barros. Ou porque tenho a chave, mas não sei ainda o que ela vai abrir, ou aonde ela vai me levar. Como o meu preferido, Oskar Schell.

A resposta pode estar incrivelmente perto.

Tudo parece extremamente alto.

Talvez seja eu ainda criança; guerreiro menino, que ama e ama.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

O Futebol que Sobrevive

Em reuniões ordinárias, carregadas de vaidade plebéia, foi-se a paixão. Diante da constatação das impossibilidades financeiras, a esperança se perdeu. E, lá, em nobre salão, havia lobos. Estavam também nos gramados e nos escritórios. Lobos em pele de ovelha. Ou velhas raposas de fraque e chuteiras.

Para eles, trata-se da oportunidade de investir em instituições que vivem do privilégio da impunidade. São tanto aqueles que jogam, como os que orientam, trabalham e noticiam. Inclusive, mas não só, aqueles que dirigem. O caso é pandêmico.

As boas ações não vendem jornal ou espaços publicitários. E os que ainda lutam com paixão, como se o patrimônio fosse bandeira, são tratados como loucos e não se livram do estigma da generalização (portanto, lobos também).

Falo, sim, de futebol. Daquele negócio... daquilo que me afastou e que me curou.

Hoje o futebol sobrevive apenas na reação involuntária de um sorriso por cada gol marcado, na preocupação com meu pai após cada gol sofrido e, sobretudo, nos amigos. Lembramos e somos lembrados – as mensagens se multiplicam no celular e na Internet. Há os que ainda telefonam. Comemoramos ou lamentamos. Provocamos e somos provocados.

Hoje o futebol sobrevive sereno. E a doença se manifesta raramente. Por exemplo, quando percebo que ainda acredito em milagres.

Saudações tricolores.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

De Retalhos se faz uma Viagem

Pouco antes das 8h30, ainda sem ânimo, saio de casa e entro no ônibus vermelho. Bom dia ao motorista, bom dia ao cobrador, na Voluntários bem desperta. Sento-me olhando para nada. Depois, para o lado, para frente, para o outro lado. Fones em todos os ouvidos e fios pendentes. Coloco os meus e deixo os pensamentos dançarem no escuro ao som de Bruce Springsteen.

Aos poucos desperto para o lindo dia de sol; mais tarde, dia de calor insuportável. Ainda na mesma rua, aqueles que acenam do ponto parecem acompanhar o ritmo, mas eles estão longe de procurar independência. Apenas aguardam o mesmo ônibus vermelho.

Entre os cinemas e a curva que leva à praia, Cássia traz o segundo sol e, claro, o dia de calor insuportável.

Praia de Botafogo com Cindy Lauper. Pão de Açúcar e os Goonies. Deixei Alice em casa assitindo ao filme. Ela não precisa ler as legendas para vidrar nos cabelos coloridos que lá cantam a mesma música que ouço aqui. Ela não precisa entender inglês para sorrir para o Sloth. Este é um parágrafo para levantar o astral.

Os Commitments me carregam pela Praia do Flamengo e Glória ao encontro de Mr. Jones. Ele conversa com uma dançarina de flamenco de cabelos pretos. She´s suddenly beautiful. Saio do ônibus na Beira-Mar com vontade de dançar. Como nos velhos tempos, com novos amigos.

Chego ao trabalho e ao fim da viagem. Desligo o MP3 que ainda grita para mim: Can you take me higher? Subo pelo elevador.

Ah! O Amarante... ele ainda espera pela música que não tocou. Cara estranho... ;)