Sentei entre as duas para contar que
tinha escrito um texto para Esbelta. Pedi que lessem. Se não se opusessem, eu
colocaria o papel na entrada da capela, ao lado do nome dela. E fiz assim.
Minha avó tinha uma história que merecia ser contada, que eu resumi em poucas
linhas em uma noite de insônia, meses antes, quando ela ainda estava em coma e
eu não imaginava mais que pudesse voltar a sorrir ou suportar tanta dor.
O título era Esbelta e o Globo Terrestre.
O texto falava de seus olhinhos meio puxados
e de uma viagem ao Japão (era China, esclareceu um primo). Citava o
conhecimento que tinha sobre as ramificações de sua árvore genealógica e o
sobrenome alemão: Sommer. Trazia recordações das manhãs em que estudávamos
juntos para as provas de geografia e do maior presente que dela ganhei: o
globo. Descrevia seu corpo franzino como um desenho de criança, como se minha
filha tivesse feito a bisavó com alguns tracinhos. Relacionava as quantidades
de bisnetas (eram quatro), netos (dez) e filhos (três, mais um série incontável de
alunos). E a história de Esbelta, quase toda passada na cidade do Rio de
Janeiro, terminava em uma aventura perto das estrelas.
Hoje também é domingo, mas não há
motivo especial na data para que eu volte a escrever sobre ela. Pode ser a
saudade restou no primeiro parágrafo e que às vezes chega a mim nos olhares da
minha mãe e da minha tia. E, se agora não estou com elas, deve ser a ventania
insistente – que bate as portas, derruba as coisas, brinca de embaralhar o
tempo e as minhas lembranças.
Esbelta tinha muito medo de que o
vento a levasse. Hoje ele a trouxe de volta.
Muita ternura!
ResponderExcluirAna Maria
Lindo! Que os ventos sempre a tragam nas suas lembranças...
ResponderExcluirQuerida Familia
ResponderExcluirReciban nuestras condolencias.
Tal hecho nos ha causado profunda penaDesde el Peru, una oración
Emilio y Familia
Pausa.. nó na garganta... saudade... deixa pra lá! Que aperto...
ResponderExcluirObrigada por falar da nossa Bequinha...Bj, Karina
O vento e o tempo são irmãos. Um revira você por dentro e o outro transforma dor em doce saudade.
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