quinta-feira, 25 de julho de 2013

Rodas

Gostamos muito de viajar de carro. Dividimos as tarefas assim: eu dirijo, Nane navega. E o GPS é o nosso melhor amigo. Só falta tratar com carinho: Errou o trajeto, amor? Não tem problema, eu resolvo isso pra você – confesso que não tirei a ideia da minha cabeça; o dono da graça é outro melhor amigo. Aliás, o GPS também é engraçado: há desembargadores em quase todas as ruas francesas e delegados nas italianas. Na lógica do aparelho, a Rue des Halles homenageia o Desembargador Halles; e a Via del Corso, o Delegado Corso.

Sempre alugamos carros de uma mesma categoria: a mais barata que ofereça espaço para as nossas malas. Em nossas breves experiências, os franceses foram mais generosos que os italianos: em Paris, pegamos uma Mercedes Classe B; em Nice, um Nissan Juke que, na verdade, não tinha o espaço de que precisávamos, mas foi inesquecível; e, em Bologna, um Opel Meriva de embreagem dura. Continuando com as comparações, achamos as estradas italianas mais apertadas; percebemos que os franceses correm, mas os italianos exageram. Somente os holandeses parecem obedecer aos limites de velocidade. Mas a Holanda é sempre um capítulo a parte.

Se, por um lado, temos que perder um tempo procurando por estacionamentos e aprender a lidar com as regras dos pedágios e as intrigantes informações nos postos de gasolina (do tipo: “The self service not to be bones”); por outro, o carro nos oferece uma liberdade sem preço. Se não gostamos, vamos embora de Tarascon. Caso contrário, podemos voltar a San Gimignano para tomar mais um sorvete.

Rodas não é apenas o título desta crônica. É o nome de um livro, feito sob encomenda, que meu pai escreveu com um amigo sobre a história do automóvel. Herdei dele o gosto por carros. A minha ligação, porém, é mais afetiva que aficionada. Não entendo quase nada da parte mecânica, já não reconheço mais marcas e modelos. A paixão por carros resiste junto às lembranças da minha infância: a minha coleção de Matchbox, as manhãs de domingo com Senna, Piquet e meu pai. Ainda assim, é impossível resistir a uma foto de um Citroën 2CV em ruas francesas, ou a um almoço no meio da fumaça durante um evento chamado Mille Miglia em Siena.

Por tudo isso, quando fizemos nossa opção pela Itália e concluímos que a melhor opção de voo da KLM nos levaria a Bologna, foi inevitável começar a viagem por Maranello, pelo Museo Ferrari, pelo simulador de um Fórmula 1, pelas fotos com a baratinha vermelha e os carros esportivos, antes mesmo do vinagre balsâmico.

domingo, 14 de julho de 2013

Ostia Antica

Ficamos ali, sentados, cerca de vinte minutos. Um banco qualquer nos jardins da Villa Borghese, uma dor de cabeça que era enxaqueca. Fazia o tempo de sempre – céu nublado, um sol tímido se alternando com alguma garoa. Enquanto eu me distraía com a habilidade dos motoristas de ônibus, que estacionavam de ré na ladeira, ela desistia. Aquele passeio ficaria para outras férias, ou nenhuma.

Ela insistiu, e nós nos despedimos na estação Ré di Roma, de onde voltaria sozinha para o hotel. A partir dali, segui em minha primeira aventura solitária em terras estrangeiras. Experiência começou depois que deixei o metrô algumas estações adiante, em Piramide, subi as escadas e esbarrei com a habitual falta de informações. Como só havia um trem na estação San Paolo, resolvi me aproximar. Ostia Antica? O condutor acenou com a cabeça, e eu entrei.

Para passar o tempo, observava as pessoas, buscava personagens. Só me chamou a atenção o grupo de adolescentes que se amontoavam nos bancos, as meninas sentadas no colo de seus namorados, muitos sorrisos e pouco falatório. Era sábado, deduzi assim que iam para as praias e que eu saltaria antes deles. Reflexo da ansiedade, da falta de ter com quem conversar, eu contava as estações restantes a cada parada, queria mesmo chegar logo ao meu destino.

O sol só apareceu quando cheguei ao parque arqueológico. Mas ventava muito, e era difícil manter aberto o folheto que comprei na bilheteria. Aquele mapa era suficiente – não queria uma aula de história. Aliás, quando viajo por aí, costumo dispensar explicações em demasia. Para mim, naquela cidade fantasma, bastava caminhar labirintos adentro, identificar as principais atrações numeradas no papel, tentar visualizar as imagens de uma época desconhecida, ou chegar ao porto e descobrir que o mar não passa mais ali.

Precisava registrar meus passos: tirei fotos de mim mesmo, até acertar, entre as ruínas e no teatro (contra o céu azul, para a lembrança ficar mais bonita).

Mais tarde, voltaram as nuvens e também a garoa. Em busca de abrigo, encontrei o museu e, depois, a lanchonete. Preferi comer apenas uma salada de frutas, para chegar com fome a Roma e caprichar no jantar. Mais de duas horas depois, voltei à estação de trem com um punhado de fotos para dividir e uma história a mais para escrever.