domingo, 8 de julho de 2012

Champignons Não Falam Inglês

Em meio à peregrinação pelos maravilhosos castelos do Vale do Loire, arrumamos tempo para um passeio gastronômico bem diferente. Eram quase quatro horas da tarde quando chegamos a Bourré. Vínhamos de um encontro com Tintim e Milou em Moulinsart, ou melhor, no Castelo de Chéverny. Embora estivesse nos planos, a visita àquelas cavernas geladas, onde ainda se cultiva cogumelos manualmente, dependia muito dos tempos gastos nos castelos e nos deslocamentos.

Os casais de ingleses chegaram depois, em quatro bicicletas, e estacionaram na sombra, entre as árvores e o carro que alugamos para toda a viagem. Sentaram-se nas cadeiras de plástico do restaurante que funcionava apenas para o almoço e, como nós, ficaram esperando pela guia. Quando ela apareceu, eles perguntaram em inglês onde ficava a bilheteria. Nane rompeu o silêncio para responder e mostrar onde havíamos comprado os ingressos. Eles agradeceram, pagaram pelos seus e logo retornaram para acompanhar a pequena expedição.

Quando tiveram certeza de que a guia só falava francês, os ingleses ficaram bastante decepcionados. Acabamos nos oferecendo para tentar ajudar, o que não foi tarefa das mais fáceis. A cada espécie de cogumelo, a guia discursava sem interrupção, trazendo informações que não conseguíamos absorver integralmente: sobre o sabor do Shii Také e a textura do Pleurote, sobre a mistura orgânica compactada em troncos que era utilizada para o cultivo do Champignon de Paris, e também sobre a principal atração daquela Cave Champignonnière – o Pied Bleu, espécie pela qual são responsáveis por 45% da produção mundial. Enquanto eu me preocupava em registrar o que era possível, Nane já se adiantava e matava saudades de falar inglês.

Mas a primeira parte da visita não se limitava aos cogumelos. As rochas utilizadas na construção dos castelos da região, inclusive Chambord, tinham sido retiradas das frias cavernas que visitávamos. Havia ali uma pequena exposição de instrumentos e explicações sobre métodos medievais para a extração do tuffeau, além de outras relacionadas às condições de trabalho na época. Seguimos tentando explicar o que era possível aos nossos amigos. Nane chegou a dizer para eles não acreditarem em tudo que dizíamos. Eles acharam graça, e acabamos dando muitas risadas juntos até o fim do passeio.

As informações sobre aquelas rochas calcáreas serviram de introdução à segunda parte do passeio – a cidadela subterrânea. É obra de um artista plástico, que levou quase três anos para ser concluída e pretende preservar as condições originais das construções da região do Vale do Loire. Rica em detalhes, as esculturas incluem, por exemplo, um gato pulando janela e mãos abrindo portas.

Terminada a visita, enfrentamos o risco de um choque térmico na saída das cavernas. Trocamos a temperatura de 13ºC pelos quase 30ºC de uma primavera francesa com jeito de verão. Compramos um vidro de mousseline de Pied Bleu na loja e nos despedimos da agradável companhia dos amigos ingleses, os únicos que fizemos em toda a viagem. De lá fomos para a deliciosa cidade de Amboise em busca de alternativas para o lanche da noite que faríamos no quarto do hotel.

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