domingo, 15 de julho de 2012

Bigode e Barriga

11 de dezembro de 1983

Mais de quarenta minutos do segundo tempo de um jogo sem gols. Estávamos sentados nas cadeiras azuis, atrás da baliza que fica à direita das cabines de rádio. Era dali que assistíamos à maioria das partidas. Eu tinha nove anos, as aulas do terceiro ano primário já haviam terminado, e futebol era uma brincadeira quase solitária, de pai e filho – meus amigos não eram tricolores. Restava pouco tempo para que o placar se alterasse. Por isso, eu tinha certeza de que era hora de ir embora. Era sempre assim: em jogos de duas torcidas, clássicos cariocas, saíamos antes do fim porque meu pai temia cruzar com os adversários em torno do estádio. Mas naquele dia, foi diferente quando trocamos os olhares e perguntei: Vamos? Não sei se era a companhia do amigo rubro-negro, não sei se era a esperança ignorando o medo... Ele decidiu ficar.

Dali, daquelas cadeiras azuis que o Maracanã não tem mais, era impossível distinguir as linhas divisórias do campo. Dali, não tínhamos qualquer noção de profundidade. Vimos, entretanto, aos quarenta e tantos minutos, o mulato de uniforme branco correr em nossa direção. A bola subiu e desceu para encontrar seus pés. Não percebemos quando ele chutou porque o goleiro encobria nossa visão. Vimos apenas a rede estufar de leve. Não guardo outras imagens que as da televisão: um Assis incrédulo, com o bigode sorrindo, tão feliz quanto qualquer um de nós.

25 de junho de 1995

Estávamos de novo sentados nas cadeiras azuis, mais próximos à bandeirinha de escanteio; como sempre, à direita das cabines. O futebol não era mais uma brincadeira restrita ao pai e ao filho. No estádio, minha irmã e meu irmão nos faziam companhia. Na faculdade, o Fla x Flu dos churrascos era um grande barato. Mas o tempo cruel tinha deixado os tricolores quase dez anos sem título. E, naquele ano, o adversário comemorava o centenário, tinha técnico e elenco, mas não tinha ainda nos vencido. Abrimos dois gols de vantagem no primeiro tempo, eles empataram no segundo. Logo depois do segundo gol, uma expulsão me fez reviver a hora de partir. Daquela vez, eram três filhos para cuidar, não havia amigo rubro-negro ao lado, não havia esperança que ignorasse o medo. Ele concordou quando perguntei: Vamos? Saímos.

Andamos lentamente em direção ao carro, que estava estacionado a algumas quadras do Maracanã. Assim que atravessamos a rua Conde de Bonfim, ouvimos o burburinho de comemoração que vinha do estádio. Trocamos olhares até encontrar a certeza: um tricolor, com radinho de pilha na mão, pulava sozinho no meio da rua deserta. Sofremos os minutos finais tentando escutar outros radinhos pelo caminho, nas portarias e nos bares. Quando chegamos ao carro, o jogo tinha acabado. Meu irmão chorava. Colocamos as bandeiras nas janelas e ouvimos uma dezena de vezes o gol de barriga que não vimos. E a festa continuou assim, repetitiva, nas Laranjeiras.

14 de julho de 2012

Recordar é viver. Saudações tricolores e um feliz aniversário, pai.

2 comentários:

  1. Adorei, Rudolph!!!! Sem dúvidas recordar é viver e muito bom!!!
    Parabéns ao seu pai e ao centenário do Fla x Flu, clássico do qual também tenho várias lembranças!!! Muitas boas, outras nem tanto, mas todas memoráveis!!!
    E fica aqui o convite (Larissa, você também...): em 2013, no primeiro Fla x Flu do novo Marca, temos um encontro marcado, hein! Todos lá! Bjs

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  2. Posso ser sincera? Não gostei desse texto!!!! Não pelo texto, você sabe... Mas esses momentos tão memoráveis pra você eu prefiro esquecer! kkkkkk

    Por mim está marcado! No 1º FLA x FLU do retorno do MARACA estaremos lá! Mas você já sabe, só se tiver um campo neutro! kkkk

    Parabéns pro seu papi! Beijos

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