Meus roteiros são bem amarrados, mas guardam uma folguinha para mudanças de planos. Havíamos reservado um hotel de rede situado uma hora e meia ao norte de Bordeaux, que deveria bastar como dormitório e teria a função de encurtar o trecho mais longo da viagem, entre os arredores de Saint Emilion e o castelo mais próximo no vale do Loire – Azay-Le-Rideau. No entanto, enquanto jantávamos pela segunda vez no inesquecível restaurante do Château de Sanse, decidimos não retornar a Bordeaux, onde planejávamos passar parte do dia seguinte, e antecipar a nossa chegada à desconhecida Angoulême, que sequer aparecia no Lonely Planet que eu carregava na mochila.
A pesquisa que Nane fez na Internet naquela mesma noite nos indicou algumas atrações da cidade. Na manhã seguinte, partimos em busca daquela que parecia ser a mais interessante delas: o Museu de Quadrinhos. Chegamos logo depois do almoço que improvisamos no hotel. O estacionamento estava vazio e os portões fechados. Para fazer hora, atravessamos a ponte sobre o rio Charante e encontramos outra das atrações: o Museu do Papel, construído nas instalações de uma antiga fábrica, onde havia funcionado também uma pequena usina hidrelétrica. Lá descobrimos uma exposição temporária de origamis que valeu o dia.
Nas salas escuras por que passamos, não havia cisnes nem outras dobraduras do Plimplim. Éric Joisel nos surpreendeu com personagens de O Senhor dos Anéis (sensacionais Gandalf e Balrog), um buquê de rosas brancas e vermelhas, um cavalo alado, um enorme rinoceronte, dentre outras obras, que podem ser vistas também na homepage do artista.
Voltamos em seguida para o primeiro museu, ainda vazio mas aberto. Nele, a exposição permanente serpenteava em um amplo salão, cheio de sofás e opções de leituras; a temporária ficava numa sala menor e era dedicada às crianças. A livraria anexa é também imperdível, sobretudo para os fãs, mesmo os que não leiam em francês ou os que tenham um conhecimento limitado do assunto, como eu. Ali os quadrinhos são tratados como a nona arte, livres dos preconceitos que, por exemplo, impediam meu pai de comprar revistinhas nas bancas. Ainda assim, as minhas preferências trazem a influência francófona dele: Tintim e Asterix sempre foram adoráveis exceções nas prateleiras da minha estante.
Depois de comprar livros para Alice e para mim, embora ainda estivesse cedo, tentamos chegar ao centro da cidade para procurar opções para o jantar. Acabamos desistindo porque ali eu me senti bastante desconfortável dirigindo: havia ladeiras e cruzamentos confusos até para o GPS. Andamos em círculos durante algum tempo até voltar para o hotel para pesquisar restaurantes nos arredores. Optamos por um que acabou dando um belo fechamento ao dia mais improvável de nossa viagem: o La Margelle, na localidade de l'Isle d'Espagnac, onde, longe de turistas, só ouvíamos francês nas mesas à nossa volta.
A grande emoção de uma viagem ( pelo menos pra mim) é poder, ainda que de modo superficial, sentir-se parte do lugar... como se fosse possível realmente vivenciar o que perpassa o "turismo".
ResponderExcluirAhhh tinha que ter um jantar e procuras por restaurantes! ;)
ResponderExcluirSabe de uma coisa... acabei de descobrir o que não estava visível nas fotografias! :)