Estávamos hospedados em uma pequena torre, com uma sala de
estar no térreo, quarto e banheiro no andar de cima. O restaurante ficava no
meio do caminho que levava à piscina e o céu azul da noite francesa garantia
que o jantar seria servido na varanda, de onde se via muito verde, parreiras
infinitas, e se ouvia pouco além do silêncio. Recebidos por uma irlandesa muito
simpática, escolhemos menus diferentes e uma garrafa de Bordeaux “La Jalgue”
2005. Antes das entradas, experimentamos uma interessante guacamole de pepino como
amuse-bouche e aproveitamos para conversar
sobre os planos para dia seguinte: Castillon la Bataille e Saint Emilion pela
manhã e um passeio pela cidade de Bordeaux depois do almoço.
O vinho chegou e eu engasguei ao provar. Foi engraçado,
rimos bastante com o garçom e ficamos ainda mais relaxados para curtir o jantar.
Quando vieram as entradas, o assunto passou a ser guiado exclusivamente pelo
paladar: finalmente eu me deliciava com ostras e Nane provava suculentos
raviólis mediterrâneos. Os pratos principais nos fizeram repetir uma expressão,
adaptada do português mais chulo, que usávamos para definir, com a ajuda evidente
do álcool, as melhores sensações daquela refeição: du carraille. Eu escolhi o filé de porco preparado com sálvia e
legumes imperdíveis. Nane preferiu um vitelo ao molho de mostarda e batatas
divinas. Tudo foi fotografado, tudo estava perfeito.
No entanto, faltavam ainda as sobremesas. Já passavam das
dez horas, as velas estavam acesas, mas ainda havia vestígios de raios solares
no céu. O merengue de mirtilo com sorvete de avelãs da Nane ajudou a iluminar o
ambiente. A minha escolha, por sua vez, trazia um belo resumo de doces
preferidos: biscoito de amêndoas, fatias de pera cozidas com lavanda e sorvete spéculoos. Quando o êxtase gastronômico
chegou ao fim, deixamos a mesa leves demais e caminhamos com cuidado até a
torre. Com mais cuidado, subimos a escada até o quarto e nos deitamos. Ali, por
mais de um motivo óbvio, demoramos muito a dormir. E antes de meus olhos
fecharem, eu tive certeza de que escreveria sobre a melhor refeição da minha
vida – experiência que fizemos questão de repetir no dia seguinte.
fantastico rodolpho
ResponderExcluirQue barato! Parece tudo muito real na sua descrição. Deve ter sido um dia inesquecível.
ResponderExcluirAna Maria
maravilha, Rodolpho!!! Ana Maiolino
ResponderExcluirMaravilhoso!
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