domingo, 17 de junho de 2012

Dîner au Château

Marcamos nosso jantar para as oito horas da noite. Vínhamos de um longo dia de viagem, iniciada em Carcassonne pela manhã, interrompida em Moissac para conhecer a Abadia de São Pedro, almoçar e comprar um cabo novo para o GPS na loja de uma companhia telefônica. De fato, sair da A62, estrada que leva a Bordeaux, e chegar ao Château de Sanse sem orientação teria sido tarefa muito difícil, mesmo com um mapa rodoviário. A partir dali, as estradas se estreitavam, as placas desapareciam e a paisagem ganhava a maravilhosa monotonia dos vinhedos. Com o aparelho funcionando, chegamos sem contratempos ao destino, com tempo para descansar um pouco, comprar queijos em uma Chèvrerie, dar um mergulho na piscina e aguardar a hora do jantar.

Estávamos hospedados em uma pequena torre, com uma sala de estar no térreo, quarto e banheiro no andar de cima. O restaurante ficava no meio do caminho que levava à piscina e o céu azul da noite francesa garantia que o jantar seria servido na varanda, de onde se via muito verde, parreiras infinitas, e se ouvia pouco além do silêncio. Recebidos por uma irlandesa muito simpática, escolhemos menus diferentes e uma garrafa de Bordeaux “La Jalgue” 2005. Antes das entradas, experimentamos uma interessante guacamole de pepino como amuse-bouche e aproveitamos para conversar sobre os planos para dia seguinte: Castillon la Bataille e Saint Emilion pela manhã e um passeio pela cidade de Bordeaux depois do almoço.

O vinho chegou e eu engasguei ao provar. Foi engraçado, rimos bastante com o garçom e ficamos ainda mais relaxados para curtir o jantar. Quando vieram as entradas, o assunto passou a ser guiado exclusivamente pelo paladar: finalmente eu me deliciava com ostras e Nane provava suculentos raviólis mediterrâneos. Os pratos principais nos fizeram repetir uma expressão, adaptada do português mais chulo, que usávamos para definir, com a ajuda evidente do álcool, as melhores sensações daquela refeição: du carraille. Eu escolhi o filé de porco preparado com sálvia e legumes imperdíveis. Nane preferiu um vitelo ao molho de mostarda e batatas divinas. Tudo foi fotografado, tudo estava perfeito.

No entanto, faltavam ainda as sobremesas. Já passavam das dez horas, as velas estavam acesas, mas ainda havia vestígios de raios solares no céu. O merengue de mirtilo com sorvete de avelãs da Nane ajudou a iluminar o ambiente. A minha escolha, por sua vez, trazia um belo resumo de doces preferidos: biscoito de amêndoas, fatias de pera cozidas com lavanda e sorvete spéculoos. Quando o êxtase gastronômico chegou ao fim, deixamos a mesa leves demais e caminhamos com cuidado até a torre. Com mais cuidado, subimos a escada até o quarto e nos deitamos. Ali, por mais de um motivo óbvio, demoramos muito a dormir. E antes de meus olhos fecharem, eu tive certeza de que escreveria sobre a melhor refeição da minha vida – experiência que fizemos questão de repetir no dia seguinte.

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