Fiquei sonolento ainda no trabalho. Resolvi então pegar um táxi do
Centro para Copacabana. Como de costume, cheguei um pouco mais cedo no
consultório, antes das 18h. No entanto, daquela vez havia uma razão: eu tinha
que assinar os cheques pré-datados de todo o tratamento, que ia muito além da
extração. Confesso que tive muitas dificuldades para fazê-lo. Não acertei uma
assinatura sequer, ficaram todas interrompidas, estranhas mesmo. Pelo menos,
elas não pareciam falsificadas e os valores estavam certos. Acho que a dose dupla
de antibiótico me deu um barato, não estava me sentindo normal, estava aéreo.
Estranho...
Mas não estava tão bêbado como meu pai no dia em que fez a cirurgia de
catarata. Naquele dia, quando cheguei ao hospital, disseram-me que ele teria
que esperar mais o que normal para sair. Por causa do nervosismo, tiveram que sossegar
o leão antes da cirurgia. Assim que entrei no quarto, pude constatar o quanto
ainda estava grogue: chamava uma enorme enfermeira de gatinha. Ele me pediu para ligar a televisão, uma daquelas
antigas de catorze polegadas, que pegava a Globo, a Band e nada mais. A novela das oito não interessou. Mesmo com
alguma interferência na imagem, preferiu a Tiazinha, nome que deu a todas as
modelos que apareceram com trajes diminutos nos comerciais de tele-sexo. Eu ri
sozinho.
De tempos em tempos, enquanto esperava minha mãe voltar de casa, eu tentava
puxar assunto para verificar se os efeitos das drogas calmantes tinham passado.
Como a minha capacidade criativa tinha limite, perguntei finalmente como tinha
sido a cirurgia, e se ele estava se sentindo bem. Entre risadas, ele devolveu a
pergunta: O que você acha? E respondeu em seguida: Colocaram o seu pai de
sapatilhas, toquinha e um vestido aberto nas costas. Você acha que eu estou
bem? Boas intenções eles não tinham, meu filho.
Quando minha mãe chegou, ele já estava sóbrio e pudemos partir.
Ótimo, engraçado.
ResponderExcluirAna Maria