sexta-feira, 6 de abril de 2012

Oz e Otolina

Na hora de dormir, é difícil vencer as opções ilimitadas de seriados pré-adolescentes que passam na televisão. Os episódios se repetem muito, mas Alice não se importa, sempre pede mais um, mesmo sabendo que não abrimos exceção – durante a semana, ela vai se deitar sempre às 20h30. Dependendo da reação que ela tenha ao cumprimento da regra e da velocidade do longo processo que a leva para cama, prometemos a recompensa da leitura.

No último dia das crianças, tive uma vontade enorme de comprar um presente para Alice. Pode parecer estranho, eu sei. Mas ela é uma criança que ganha tudo, de todos, porque é única na família. Eu precisava de um presente com selo, um presente do papai. Como o interesse dela pelas letrinhas vinha crescendo e o ano da alfabetização se aproximava, resolvi comprar um livro diferente daqueles que costumávamos ler antes de dormir. Escolhi O Mágico de Oz, em uma edição de poucos desenhos e muitas letras.

Acreditei nas vantagens de Alice conhecer o filme e ter visto uma peça encenada pela prima americana. No meio de tantas letras, talvez se tornasse interessante tentar reconhecer aquelas imagens na minha narrativa. Ela logo aprendeu que o livro era dividido em capítulos, que faríamos a pausa entre um e outro, que podíamos usar o marcador de livros do Harry Potter para não nos esquecermos de onde paramos. Foi divertido, mas confesso que o silêncio dela me incomodava um pouco.

Eu tinha dúvidas de que ela estivesse mesmo prestando a atenção; por isso, com as luzes já apagadas, eu fazia perguntas sobre a história, e ela respondia a todas elas. Ainda assim, não tinha certeza de que ela gostava mesmo do livro – às vezes, fazia pouco caso, não queria ler, preferia a televisão. A leitura durou quase quatro meses e, mesmo nos últimos capítulos, jamais assisti àquela manifestação de ansiedade típica de quem quer saber o que vai acontecer. Culpa do livro, talvez (menos leve que o filme); de Oz (que engana as pessoas, e engana por quê, pai?); ou da minha escolha por um livro com final conhecido.

Depois de Dorothy e Totó, sem qualquer selo do papai, veio Otolina e a Gata Amarela. A identificação de Alice com a protagonista foi imediata: Otolina faz planos em seus cadernos e se interessa por resolver mistérios. O livro intercala textos e figuras repletas de detalhes, desperta a curiosidade entre capítulos, não dá vontade de largar. Estamos no fim do segundo livro, Otolina na Escola. Hoje, ainda suado, recém chegado da aula de tênis, contrariando a regra das terças, eu ofereci a leitura do capítulo nove. Não foi suficiente: ela implorou para ler duas páginas do último capítulo. E ainda ousou dizer que a página do título não contava.

Cedi em parte: li as duas páginas que ela queria; porém, sem dar margem a embromações – que são coisas de Oz, o charlatão. Cedi porque estamos nos divertindo muito e, dessa forma, a recompensa da leitura é compartilhada. E não precisamos mesmo obedecer a todas as regras. Afinal, qual o motivo de parar no fim do capítulo, se temos o marcador do Harry Potter?

2 comentários:

  1. Lindo! Parabéns pela iniciativa. Mal vejo a hora de fazer isso com os meus filhos ;)

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  2. Alice é uma super leitora! Adorei!
    Abçs
    Ana Maria

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