domingo, 15 de maio de 2011

Sem Folga, Mãe

A baixinha acorda mal-humorada. Beijinho discreto na mãe, senta-se no sofá, estica o braço para receber o Toddy, que sempre fica pronto antes que ela se levante, e pede: Quero ver televisão. Não tem por favor, é uma ordem. E não quer saber de mim. Focada na tela, não se mexe quando lembro que temos um presente para dar e um show para apresentar. Demora um tempo ainda, espera pelo fim do programa para buscar a sacolinha de papel escondida no meu armário. Com as mãos para trás, faz mistério com sorriso sapeca. Está acordando, parece. O pingente em forma de coração faz a mãe sorrir. Acordou de vez: pirraças contínuas fazem a mãe fechar a cara. Hora do show, então. Ainda com a calça do pijama, para contrariar. Cumprimos o combinado no sábado. O CD toca Doce Mel e seguimos a coreografia que ela inventou, com algum improviso, claro. Depois, o show continua com Zélia Duncan, que nos ajuda a dizer que mamãe será feliz e todos... serão também! Mamãe sorri de novo, das nossas maluquices, e ganha um beijo duplo no final. Agora, a pequena quer ensaiar no dia de se apresentar. Troca o CD da infância da mãe, e de outras mães, por Glee. Diante de alguma hesitação minha (estou cansado; com preguiça para qualquer atividade física que não tenha sido prevista), mais pirraça. Resmunga, faz beiço, contorce o rosto... Será que criança não se toca? Não é assim que se consegue as coisas. A ladainha se repete e a mãe se aborrece, de novo. Eu topo encarar o ensaio, mas sem choro. Ela quer uma música que tenha um menino e uma menina cantando. Eu danço, sempre, e ela canta em seu dialeto preferido: o inglês embromado.

Vamos então almoçar com a minha sogra, mãe da mãe da baixinha. As outras mães ainda dominam a programação. A mãe da baixinha se pergunta, com razão, quando será a vez dela. Quando for avó? Por outro lado (o meu), a solução foi dada antes: um café da manhã no sábado, cuidadosamente marcado, para compensar a falta do almoço, para o horário não ficar apertado para a festa às quatro da tarde, de um amigo da escola – imperdível, então. O domingo não é diferente, com programação intensa: temos o aniversário de uma amiga da mãe, mãe também, no início da noite.

Quando o fim de semana termina, formulo algumas conclusões...

Ser mãe é não se esquecer das outras mães – as suas, as agregadas e as periféricas.

Ser mãe é aguentar a falta de tempo dos filhos maiores e a insolência dos filhos menores (insolente é termo de avó, que é mãe do pai ou da mãe, que é mãe ao quadrado).

Ser mãe é ter que contar com um marido tonto (euzinho), meio perdido no meio de tantas mulheres, oferecendo uma massagem à tarde, entre o almoço que passou e o jantar que virá.

O dia das mães não é como o dia do trabalhador. Porque ser mãe é ser mãe até no dia das mães. Sem folga.

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