domingo, 8 de maio de 2011

Os Suspeitos

Antes do filme, os beijos. Durante, os beijos perderam a vez – o filme era muito bom. Saíram do shopping em Botafogo e estacionaram o carro na rua onde ela morava, com duas rodas sobre a calçada ao lado do tapume que escondia as obras do prédio que começava a subir. Trocaram mais beijos, antes do papo ficar sério. Convicta, ela disse que não gostava de jogar. Ótimo, porque parecia óbvio e só faltava mesmo oficializar. Estão agora namorando há exatos quinze anos.

A decisão foi tomada depois de um bilhete, dela para ele, e de umas poucas saídas, suficientes para descobrirem afinidades nos livros e no coração. O bilhete se transformou em inúmeras cartas, as dela mais longas que as dele, que nunca exercitou tanto expressar o que sentia. A fase de novidades e deslumbre esconde os defeitos que só a convivência revela, mas foi tateando surpresas maravilhosas que eles fizeram as escolhas que os trouxeram juntos até aqui, aos 8 de maio de 2011.

Sempre um passo a frente, ela encontrou trabalho nas salas de aula de inglês, enquanto ele andou em círculos durante tempo suficiente para ela desistir. O amor resistiu até ele se estabelecer e ela então procurou pelo apartamento que eles podiam pagar. Quando encontraram, decidiram se casar. Mas nada foi assim tão rápido quanto as frases sugerem. Tiveram tempo para se acostumarem, para comprarem os móveis, para os aborrecimentos com a lista de convidados e os pequenos detalhes que fizeram questão de terceirizar. O casamento aconteceu numa igreja daquela mesma rua insuspeita, pouco mais de cinco anos depois daquela conversa.

Os anos fortaleceram a parceria a ponto de planejarem um filho depois de uma longa viagem, apesar das muitas inseguranças que cercam a opção. A criança é o melhor resultado dessa parceria e a espera por ela talvez seja a etapa mais bonita desse amor. Ela chegou em 2005 ocupando espaços físicos e emocionais, reinventando antigos namorados, agora chamados de pai e de mãe. Com o tempo e o peso das responsabilidades mal divididas, mal conversadas, eles encontraram pessoas diferentes em seus pares. Tiveram que reavaliar os objetivos pessoais e rever as afinidades (a professora virou tradutora, o engenheiro voltou a escrever). E, ainda hoje, eles têm que reaprender a encontrar seus minutos além das horas que dedicam à criança.

Eles continuam juntos depois de quinze anos. Brigam quase nunca, mas se estranham às vezes. E quando isso acontece, ele se lembra mais uma vez daquele dia, em que eram suspeitos dentro de um carro mal estacionado numa rua escura, onde perambulava um sujeito manco que os seguia desde o cinema. Ali, os suspeitos transformaram casos de mistério em uma história de amor.

9 comentários:

  1. Só uma palavra cabe aqui: obrigada.

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  2. Linda essa recordação do início do namoro, Rodolpho... Importante nunca perder essa visão do relacionamento né ?
    bjins

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  3. Que lindo, Rodolpho! É esse reinventar de amor que mantém vivo os relacionamentos... Que a cada dias vcs possam se redescobrir, mais uma vez namorados... Meus parabéns, por vc, pela Nane (olha a intimidade), pelos quinze anos juntos, pela Alice! Ai, quase chorei agora... rs

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  4. Perfeito... !!! Como bem disse a Sandra, reinventar sempre... manter vivo... redescobrir! Mesmo diante dos "estranhamentos" causados pela rotina, pela vida... pelas circunstâncias! Obrigada por proporcionar esta leitura... que causa sim, um pouco de inveja... + causa mesmo, admiração e contentamento!!!! Desejo tudo de melhor pros 3, sempre!!!!

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  5. Que lindo, Rudolph!!! Um dos mais bonitos!!!
    Entrou na minha lista de favoritos!!!rsrs

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  6. Lindo, parabens pelos quinze anos de namoro!!!

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  7. Também entrou na minha lista

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  8. Caro Rodolpho, que texto lindo! Não só pela narrativa, mas pela linda história verossímil! De fato, alguns desses episódios fui testemunha e fico muito feliz, meu amigo, por você, Nane e Alice! Felicidades sempre!

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