domingo, 21 de novembro de 2010

O Cupido

Descobri o seguinte: é Ureadin 3 que o cupido passa na ponta da flecha. Pelo menos, lá em casa é assim, quando Alice pega o creme hidratante e começa a passar no braço da mãe, ao mesmo tempo em que pergunta: Posso? Um pouquinho é o que Nane permite. Mais um pouco é onde Alice insiste. Para que, afinal, se é loção infantil para a pele seca da pequena? Para deixar a mamãe cheirosa. E por que fazer se ninguém vai cheirá-la? Papai vai (portanto, eu vou). Ela não desiste de mais um pouquinho porque falta o outro braço. É para namorar, garante. Mas a que horas ela pensa que vamos namorar? Depois. Ela larga o creme e mostra, uma das mãos no rosto da Nane e a outra no meu: dá um beijo agora. Nós nos beijamos de leve, incentivados pelas mãozinhas ainda coladas em nossas bochechas. Ela ainda quer um beijo. Damos outro. Não serve. Ela quer outro tipo de beijo, deste jeito: entorta a boca e revira os olhos para explicar. Beijamo-nos de novo, ainda de leve, tipo selinho amassado, tipo sorriso molhado, abraçados a ela.

De manhã cedo, ela acorda antes da hora habitual. Seus passinhos são pequenos despertadores, daqueles que destroem os sagrados minutos finais do sono. Vai para nossa cama e, como sempre, escolhe o lado da mãe para se aconchegar. Deita, mas se sente apertada. E como reclama a danada! Ainda é hora de dormir, está cedo e Alice não para de tagarelar. Depois, ainda incomodada (não menos que a mãe), aceita a sugestão e vem para o meu lado, onde descobre espaço. Eu continuo dormindo, mal percebo a movimentação, só registro frases soltas, mas sei agora a conclusão: é prato feito para a esposa que tem seu canto invadido pelo marido folgado. Está vendo? Nane reclama seu território com Alice, prova que o pai não deixa espaço, que ele espreme, que eu agarro... O cupido pega a flecha de volta, sente ainda o cheiro da loção e atira de novo: é porque ele gosta de você, mamãe.

Alice dorme com o arco ao alcance da mão. Nós, com a raquete de fritar mosquitos.

3 comentários:

  1. Oi, meu amigo Rhodes, me tornei seguidor, motivado pelo post sobre o fato de ter um cupido doméstico (melhor dizendo, privado, privativo até...). Ou seria mais apropriado falar diretamente ao Amarante, que segundo citação acima, não gosta de se expor. Mesmo assim Ele consegue expor, com um suave toque de lirismo, a intimidade de seus pensamentos e de sua família. Parabéns. Não se esqueça, então, de alimentar seu(sua) cupido(a) particular, com doses diárias de ambrosia, o néctar dos deuses (láááááá da Grécia, onde era chamadoa) de Eros), a fim de deixá-lo(a)com os pensamentos cada dia mais doces.
    Abraços,

    Richard Mattos -

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