As memórias, ele garante, começam no Maracanã, em jogo contra o Fluminense de Friburgo. Ali o empate teria gosto de derrota e a vitória do nosso Fluminense seria, como realmente foi, apenas um detalhe. Para mim, elas começam de fato pelo hábito de chegar ao Maracanã com os jogos começados e de sair antes que eles terminassem. E, também, com a mão dele segurando fortemente a minha, entre o carro e o estádio; e, mais tarde, na volta até o estacionamento.
A tensão do jogo começava no carro, com o locutor transformando o jogo morno num pandemônio. No caminho que fazíamos a pé, a jogada começava no radinho de pilha da portaria de um prédio, virava suspense até o bar da esquina e, às vezes, terminava com o grito de gol da multidão distante ou com o palavrão vindo de uma janela. Se de fato ocorresse, o gol nos apressava o passo da ilusão de chegar a tempo de comemorar; ou trazia hesitação, vontade de voltar. Qualquer que fosse o sentimento, seguíamos em frente.
Eu poderia narrar os dias inesquecíveis em páginas intermináveis, mas seriam sempre vitórias de terceiros que assumimos como nossas, seríamos massa descontrolada e não indivíduos torcedores. Nós éramos pai e filho apenas na ida e na volta, na ansiedade e no desabafo. Durante, não éramos nada.
Se assim fosse o desfecho, o retorno trazia o diálogo mal-humorado da derrota. Caso contrário, colocávamos a velha bandeira de 1951 a tremular os seus farrapos na janela, aumentávamos o som do rádio a cada gol infinitamente repetido, buzinávamos da entrada do túnel até a sede do clube, brincávamos de ser feliz (futebol é brincadeira). Em casa, a televisão repetia o rádio e os gols. No dia seguinte, líamos juntos todos os jornais e, durante a semana, o jogo de botão me dava o poder de reviver aqueles momentos com ele.
Meu pai tem causas e paixões. Aprendi a seguir as esportivas, abandonei as políticas. E quando estas se aproximaram daquelas, eu me afastei dos estádios. Interessa-me ainda entender as emoções que me transformam a espera de um resultado e que me fazem torcer contra um ou outro. Não preciso explicar, porém, porque sempre ligo para ele depois das vitórias.
Memórias de danças dos bigodudos,,,,
ResponderExcluirEmocionante, Rodolpho.
ResponderExcluirVi-me em seu texto.
Acho que é o melhor elogio que um leitor pode fazer.
Obrigado.
Adorei Rudolph!!!
ResponderExcluirTambém aprendi a amar o Fluminense e frequentar os estádios com meu pai! Temos inúmeros momentos inesquecíveis juntos e vários idênticos aos seus...rsrs (coisas de pai...hehehe)
A primeira vez que meu pai me levou ao Maracanã foi em uma semi-final do Brasileiro de 1991, Fluminense x Bragantino, me lembro bem! Infelizmente, perdemos por 1 a 0 com um gol aos 45 min do segundo tempo.
Apesar da derrota, fiquei extasiada com a magia daquele lugar! Como descrever a sensação de subir a rampa da arquibancada em direção ao campo com a torcida cantando e a bola rolando no gramado? Eu não consigo! Faltam palavras!rsrsrs Vc bem que podia tentar!hehe
Desde esse dia, descobri o incrível sentimento de prazer em acompanhar meu time nos estádios, e sempre que posso estou lá.
Meu pai hoje, já não tem o mesmo pique de alguns anos atrás, mas a paixão pelo Flu continua a mesma e essa, certamente, compartilharemos pro resto de nossas vidas!!!
Bjsss e...
Saudações Tricolores!
Nossa... Não tem como não remeter (o leitor) a sua própria vivência... no meu caso, não dentro dos estádios - apesar de ter ido a raros jogos do Vasco com meu pai - mas me fez quase reviver a aquela morna sensação da mão paterna segurando a minha... deu saudades de ser criança...
ResponderExcluirMuito bonito e emocionante!!!
ResponderExcluirEu sei bem o que é esse sentimento... Também me veio a lembrança dos poucos jogos que fui com meu pai... foi ele que me apresentou e me fez gostar tanto de futebol...
Foram alguns Fla xFlus com ele, estava do lado oposto ao seu, claro, mas te falo que a emoção era tão grande quanto a sua... hoje ele não tem mais coragem de ir aos estádios, mas eu ainda irei muitas vezes com certeza!!