quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Mesa para Seis

As memórias de filho e pai seriam publicadas pouco antes do último dia dos pais, logo depois das memórias de pai e filha. Mas travei no segundo parágrafo. Não desisti e deixei o rascunho descansando. Quando retornei ao texto e consegui concluí-lo, não esperava que fosse tão comentado no blog. A surpresa me fez tomar a decisão de convidá-los para um bate-papo, em muitos sentidos, virtual. Já pedi o chope, vocês escolhem os petiscos.

Como você sabe, Boo, o meu bigodudo já não é mais. Quando os pelos brancos passaram a dominar o bigodão, ele começou a desistir. Mas faltava coragem, ele precisava de um desafio e de uma desculpa. Em 2002, se o Fluminense fosse campeão estadual, ele disse que tiraria. Foi. Promessa cumprida.

Os outros não sabem, mas a conversa com Carleon continuou por aí. Você me contou que o texto resgatou seus velhos botões e que eles finalmente foram apresentados a seu filho. Para mim, este foi o maior dos presentes... Saiba que já joguei com Alice. Coisa rápida, sem forçar a barra, para mostrar como a coisa funciona. Foram umas três vezes e ainda não consegui convencê-la a segurar a palheta na posição vertical.

Camila, minha companheira de sofrimento, aceito o desafio. Para mim, porém, as sensações do passado remetem apenas às lembranças dos jogos e das companhias, inclusive de minha irmã, que chegou a ser mais assídua que eu quando éramos adolescentes. A imagem que eu tinha da torcida tricolor foi sempre a de uma turma exigente, ranzinza, mal acostumada com a Máquina e os títulos conquistados até meados dos anos 80. É inevitável, portanto, procurar inspiração recente, em 2008, o ano em que a torcida do Fluminense reaprendeu a torcer (e, para isso, o resultado na final da Libertadores foi decisivo).

Se a Hermione, disfarçada de Boo, não se chatear, vou chamá-la de Sandrinha, tá? Pois é, Sandrinha, você me fez lembrar que, ainda criança, num supermercado, a minha mão se soltou da mão dele. Quando voltei a procurá-la, de forma automática e sem levantar os olhos, encontrei outra mão, absolutamente desconhecida. Foram segundos de desespero até reencontrá-lo e recuperar a morna sensação de segurança. No que diz respeito à primeira parte, não deu vontade de voltar a ser criança. ;)

Lari, a mulher com quem me casei não gosta de futebol, menos ainda das transformações que causa nas pessoas, duas vezes menos ainda quando não presto atenção ao que ela está falando porque o lance é de gol (ou não). Mas era o pai dela que a levava ao Maracanã para torcer do mesmo lado que você ficava. As lembranças que ela tem dele também têm cheiro de futebol.

Futebol desperta paixões, mas pode transformar doentes em assassinos. Futebol inspira discursos épicos de rara qualidade (viva Nelson Rodrigues!). Até ontem, entretanto, não tinha percebido o lado doce do futebol, o lado que tem a cara de nossos pais. Proponho, então, um brinde. A eles!

Ontem, enquanto o Flu perdia, eu já imaginava a conversa que acabamos de ter.

Ontem, depois do jogo, eu não telefonei para o meu pai.

5 comentários:

  1. Nossos bigodudos que animavam as festinhas com suas danças loucas, desistiram de seus bigodes e resolveram nos ensinar que muitas vezes filho cuida de pai, e a entendermos que muitas vezes eles também têm medo de perder nossa mão segura no supermercado....

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  2. Já que estou nessa mesa... faço um brinde também!!

    E mais, amanhã assistirei ao FlaxFlu ao lado do meu pai.. não será indo ao estádio, mas resgatarei as lembranças de como se eu estivesse lá!! :)

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  3. Que tal um filé aperitivo? Se for do agrado de todos, peçamos então...

    São 17:30. Falta uma hora para o FlaxFlu de hoje. Meu pai acabou de me ligar para saber se eu ia ao jogo, onde iria assistir, se estava confiante na nossa vitória e etc...

    Hoje não irei ao jogo. Lari, acho que peguei seu resfriado! Irei torcer de casa mesmo. Mas estou confiante sim. Meu pai também está.

    Mas ganhando ou perdendo ele vai me ligar. Isso é certo! Ou para comemorar e compartilhar a alegria ou para esbravejar toda sua frustração.

    Vamos torcer juntos, apesar dos 120 km que nos separam... O futebol tem disso! É capaz de nos unir ainda mais!

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  4. E enquanto o garçon traz mais um chopp... o que mais me emocionou no seu texto foi pq essa sensação reavivada - aquela que senti, a da mão dele, junto a minha - foi por vezes rara, devido a uma relação estranha entre pai e filha... Hj vejo a mão do meu pai segurando a mão do Frederico e todo aquele amor contido - será que ele sempre estivera ali, e eu nunca havia percebido? - tão presente, tão intenso... É, futebol tem mesmo dessas coisas... Tô sentimental hj ou é efeito do chopp? rsrsrs
    E pode me chamar de Sandrinha, sim... Aninha deixa.

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  5. Meu bigodudo ainda conserva seu bigode.

    Mesmo ficando cada vez mais branco.

    Quanto à palheta, o mesmo acontece por aqui.

    Por conta disso, comprei dois times de botões de plástico, daqueles mais baratinhos, com a palheta flexível.

    Ele - quero dizer, nós - não queremos outra vida.

    Abraço.

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