domingo, 22 de novembro de 2009

No Machimbombo

Era uma sexta-feira de Zumbi dos Palmares. Alice passava o dia com a avó e Nane traduzia. Sozinho, fui a Moçambique encontrar Muidinga que me aguardava no machimbombo para ler os cadernos de Kindzu. A Terra Sonâmbula ainda resistia em única sessão no Estação Botafogo e, dez meses depois, eu precisava reencontrá-la.

Na literatura, as personagens que me apaixonam são crianças. Depois que soubemos que teríamos uma menina, o nome de Alice ganhou tanta força que juntei muitas delas num texto que distribuí para os amigos. Muidinga não estava entre eles. Hoje estaria, contando abensonhadas estórias. Talvez no Campo Geral, com Miguilim.

As crianças me levam aos livros, e estes, às crianças. E todos, ao cinema. Em Mutum, aliás, perdemos muito quando trocaram Miguilim por Thiago e Dito por Felipe. Perdemos nós que choramos quando Dito se foi e quando Miguilim ganhou seus óculos.

Muitas vezes são os livros e as crianças que me mantêm desperto. Ainda assim, leio menos do que gostaria, tenho menos filhos do que gostaria. Às vezes, os filhos dos meus amigos me bastam. Outras vezes, leio Alice para Alice. E, quando ela permite (não é sempre), escolho a Bruxa Fofim e as princesas que soltam pum. Um dia lerei as caçadas para Pedrinho, meu afilhado.

Preciso dos livros e das crianças, porque sonho para contar os sonhos. Como Nimi, nas profundezas do bosque. Também porque gosto de fabricar brinquedos com palavras. Como Manoel de Barros. Ou porque tenho a chave, mas não sei ainda o que ela vai abrir, ou aonde ela vai me levar. Como o meu preferido, Oskar Schell.

A resposta pode estar incrivelmente perto.

Tudo parece extremamente alto.

Talvez seja eu ainda criança; guerreiro menino, que ama e ama.

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