domingo, 12 de janeiro de 2014

O Malvado Favorito

A ansiedade me surpreende no ócio das férias obrigatórias e me faz brigar com o tempo que, afinal, tenho livre. É, porém, uma liberdade que não parece minha.

Antes que eu perca mais tempo e me distancie de fato dessa liberdade, pego minha filha pela mão e, acariciando seus dedos, proponho um programa diferente. Vamos para o Centro, aproveitar o que a nossa cidade tem a oferecer, apesar do calor. Deixo a ansiedade no ponto de ônibus que se esconde no Mergulhão da Praça XV para afastar qualquer possibilidade de contágio, e empresto a minha liberdade à vontade dela. Eu indico, e Alice me conduz.

O Paço Imperial é, para ela, história recente. Faz pouco tempo que aprendeu sobre D. João VI, os Pedros e seus impérios. Durante o ano que passou, eu mesmo me aproveitei das provas de história da Alice para revisitar essas figuras nos livros de Laurentino Gomes. Entre agosto e setembro, emendei 1808 com 1822, e me senti revigorado assim.

Dentro do prédio colonial, Alice pede para abrir as portas e me puxa (por aqui, pai). Confessa que quer aprender mais, para ser uma aluna ainda melhor. Tento mostrar o mapa que está na parede com a indicação das colônias portuguesas, mas ela se recusa (já sei, é o mapa do mundo). Logo que saímos, mostro o Palácio Tiradentes e a estátua do próprio, mas ela prefere entrar nas igrejas: São José e Nossa Senhora do Carmo. São cinco minutos em cada uma, até a missa começar na primeira e os turistas invadirem a segunda.

Já passa do meio-dia. É natural que Alice esteja com fome. Quer o celular para conversar com a mamãe enquanto dá umas poucas garfadas. Deve ser o calor – porque eu também deixo metade do prato.

Saímos do restaurante para ir ao CCBB. A exposição de Yayoi Kusama pega a menina de jeito. Quer ver tudo, experimentar, tirar fotos e voltar com uma amiga – de preferência, amanhã.

Depois de passar na Cavé para eu comer um pastel de Belém e ela, uma fatia de pudim, voltamos de metrô. Paramos no Largo do Machado para caminhar até o Fluminense. Não é perto. Ela reclama, mas resmunga feliz. E eu ganho o apelido que dá nome à crônica: Você é o meu malvado favorito, pai.

Um comentário:

  1. Um barato essa crônica. Parabéns e um ótimo ano para vocês.
    Forte abraço,
    Ana Maria

    ResponderExcluir