domingo, 17 de novembro de 2013

Loreena

Foram cinco meses de espera, desde aquele dia de maio na cama do hotel em Amsterdã. A notícia chegou pelo Facebook, e a confirmação veio no e-mail enviado por Quinlan Road, site da Loreena McKennitt.

Não era somente o anúncio de seus primeiros shows no Brasil – era um convite. Junto com a mensagem vinha uma senha para os fãs comprarem seus ingressos, antes mesmo dos clientes do cartão de crédito que patrocinam as casas de espetáculos no Rio e em São Paulo. Compramos ali mesmo os quatro ingressos a que tínhamos direito. Ter o privilégio de ficar na segunda fila foi o resultado do respeito da artista pelos seus fãs.

Para Nane, o sonho já durava uns vinte anos, tempo superior a nossa história. E parecia mesmo improvável que Loreena viesse ao Brasil. Por isso, de alguns anos para cá, eu procurava acompanhar a sua agenda, tentava coincidir o roteiro de uma de nossas viagens de férias com os shows dela na Europa ou Estados Unidos.

A noite de terça-feira, 29 de outubro, foi ainda de espera, no trânsito quase insuportável de Botafogo até a Barra. Mesmo assim, chegamos mais de uma hora antes, pudemos fazer um lanche sem muita pressa e chegar aos nossos lugares com tempo para curtir o resto de expectativa, com a harpa da Loreena bem à nossa frente.

O segurança, que estava sentado de costas para o palco, não acreditou quando ela começou a cantar. Tirou os olhos da plateia e esticou o pescoço para checar de onde vinha, de quem era aquela voz. E o show que ali começou só não foi perfeito por causa da falta de educação de uma parte menor do público.

Nem todos ouviram, ou levaram a sério, o pedido feito pela cantora e anunciado pela produção do show, minutos antes do início, de que não fossem utilizadas câmeras durante a apresentação. Não bastou também dizer que haveria uma música na segunda parte em que seriam permitidas as fotos e as filmagens. Não foi suficiente ela explicar, entre uma música e outra, por que os flashes atrapalhavam os músicos, nem fazer um breve discurso sobre as desvantagens de estar tecnologicamente conectado e acabar perdendo a conexão com a essência, naquele caso, da música que era tocada. Contrariada mais uma vez, Loreena interrompeu sua apresentação, o que acabou gerando certa tensão dali até o final.

Apesar disso, porém, nada me fará esquecer a experiência de ouvir ao vivo a mesma voz das gravações e acompanhar os músicos de tão perto, de escutar o som das gaitas de fole e do hurdi gurdi, de ter a chance de perceber a relação serena de Brian Hughes com a guitarra ou o alaúde, a concentração de Hugh Marsh antes de atacar seu fantástico violino, e o envolvimento quase sexual de Caroline Lavelle com o cello, numa dança ritmada sem fim. Convencido de que Loreena tem toda razão, acabei me entregando ao momento e à música. E a lembrança é o único registro que tenho.

Nada me fará esquecer também o olhar de êxtase da Nane, felicidade que não parecia tão óbvia desde o dia em que ela me contou que estava grávida. No longo caminho de volta para casa, por causa do elevado fechado e de uma blitz da Lei Seca, decidimos que haverá uma segunda vez, no Canadá, terra natal da cantora, ou onde quer que os nossos caminhos se cruzem.

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