quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Milagres Fotográficos

Texto de ficção baseado em trabalho premiado do fotógrafo Pedro Trindade,
que mantém o site www.ecoclics.com.br

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Manoel, o guia contratado por Pedro em Paraty, insistiu com a história do velho com o cajado na mão. Garantiu que era figura rabiscada pelos índios em uma gruta há muito mais tempo que qualquer um pudesse imaginar. Vendeu, assim, o passeio para o fotógrafo. Combinou que partiriam na manhã seguinte, bem cedo porque a caminhada era longa. Não contava, porém, com o imprevisto: a febre da filha começou depois do jantar e não cedeu de madrugada. No início da manhã, antes de ir ao pronto-socorro, chamou José, que saía de mochila para a escola.

José, filho do vizinho, decidiu matar a aula para ganhar um trocado. Não contou a Manoel que conhecia a trilha mas nunca tinha entrado na gruta. Também não revelou que morria de medo das histórias que contavam sobre a antiga pintura. Diziam que era um profeta, e que ele transformava a vida dos visitantes. Ainda assim, sem tirar a mochila nas costas, saiu para encontrar o fotógrafo. Na recepção do hotel, explicou o motivo da ausência do guia e disse que era seu substituto. Quando chegaram à praia, na metade do caminho, pararam para lanchar. Ali viu Iracema pela primeira vez.

Iracema, a bela moça que molhava os pés sentada sobre uma pedra, estava sozinha. Viu os estranhos se aproximarem, mas fingiu desinteresse. Quando eles puxaram assunto, desandou a falar. Estava ali para descansar enquanto um casal de amigos procurava por uma gruta no fim da trilha. Disse que lá tinham um encontro com Deus. Gostou muito do sorriso de José, que permanecia calado. Entendeu a coincidência como destino e acabou aceitando o convite de caminharem juntos ao encontro de seus amigos. Assim que descobriu que Pedro era fotógrafo, parou de provocar o menino e ofereceu-se para posar.

Pedro, o turista que confiou na promessa de Manoel, não escondeu a frustração quando percebeu que José se afastou, confessando em silêncio que não sabia onde ficava o desenho. Aproveitou-se do desejo de Iracema para tirar muitas fotos e não dar a viagem como perdida. Escolheu primeiro uma moldura de pedras com algumas frestas de luz. Depois, enquadrou o vão de entrada da gruta à esquerda e chamou a modelo para posar. Clicou sua melhor foto depois de um passo que a moça deu, logo que ela virou o rosto, antes de ouvir o chamado de seus amigos que tinham acabado de encontrar José.

A surpresa aconteceu dias depois, quando Pedro revelou as fotografias tiradas em Paraty. O velho estava lá, sobre a moldura de pedras, pouco acima de onde Iracema fazia a pose, e com o tal cajado na mão. Sabe-se que aquela foto rendeu a Pedro um prêmio internacional. Dizem que deu a Iracema e José um primeiro amor. E há quem acredite até que curou a filha de Manoel.

2 comentários:

  1. Lindas palavras para uma bela imagem.

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  2. Muito boa a ideia de ilustrar seu saboroso conto com uma fotografia exótica, misteriosa...

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