quarta-feira, 7 de março de 2012

As Etiquetas da Livraria Sauret

Não queríamos saber de carnaval. Por isso, a geladeira cheia, os filmes alugados e os livros espalhados na sala. Uma festa no sábado era o único compromisso. Assim, sobrava tempo para eu preparar uma guacamole na sexta à noite e fazer um salmão para o almoço de quarta. Também para terminar os livros que permaneciam há algum tempo na cabeceira; e para vermos juntos filmes quase esquecidos – como o Pequeno Nicolau, programa família da tarde de segunda.

Na terça-feira, deixamos Alice passar o dia no clube com uma amiga e optamos por almoçar fora. Quando voltamos, ligamos o ar condicionado da sala e os respectivos notebooks. Sobre a estante, restava apenas Meia-Noite em Paris para assistirmos. Decidimos esperar, já que a devolução estava marcada para quinta, e aproveitar o tempo para planejar as férias, sonhar um pouco e comprar as passagens.

Abri os sites das companhias aéreas para pesquisar preços e destinos que satisfizessem nossos planos, desta vez, exclusivamente franceses – por isso também, o filme podia esperar, para ser bem saboreado depois das decisões tomadas. Enquanto eu tentava descobrir as melhores opções para a viagem, checava também os acessos ao meu blog. Confesso que a página de estatísticas vicia, e as origens de tráfego que ela registra sempre me deixam curioso. Naquele dia, identifiquei uma busca feita pelo Google que me surpreendeu.

Alguém procurava pela Livraria Sauret, que pertencia à minha avó e havia ocupado por mais de trinta anos, entre as décadas de 1940 e 1970, a loja 5 do Copacabana Palace, de frente para a praia.

Eu dividi a surpresa com meu pai ao telefone e, ao mesmo tempo, repeti a pesquisa do leitor desconhecido. Com o nome da loja entre aspas, não eram muitos os resultados do site: primeiro, levavam a um livro chamado A Etiqueta de Livros no Brasil, de Ubiratan Machado; depois, a dois textos do meu blog; mais adiante, a páginas do Diário Oficial. Logo que terminei a conversa com papai, comprei o livro em promoção na Internet.

Minutos depois, o leitor se identificou, quando comentou um de meus textos. Ali, percebi que a viagem ao passado não teria volta. Mandei um e-mail para ele, liguei de novo para meu pai, deixando o sonho da viagem futura congelado em outros sites e a Nane esperando por algum tempo.

A Livraria Sauret traz boas lembranças para Claude. Nas mensagens que trocamos, ele conta dos tempos em que saía com a revistinha do Mickey quando seu pai ia comprar o Paris-Match; da época em que iam até uma das lojas vizinhas, da Western Telegraph, para entrarem contato com a família na França em datas especiais.

Infelizmente eu não conheci a livraria, tinha menos de dois anos quando fechou. Para mim, a livraria era apenas um quarto transformado em biblioteca. Agora, uma fonte de ideias – e meu pai promete remexer as gavetas em busca das etiquetas originais, carimbos, notícias de jornal. Enquanto elas não amadurecem, procuro um lugar para guardar o livro encomendado. Na página 240, as etiquetas com a Cruz de Lorena parecem pedir para voltar para casa – um cantinho francês, uma livraria em Copacabana, uma biblioteca dentro de um quarto.

2 comentários:

  1. Muito legal! Li o texto e lembrei do livro/filme Hugo. Essa investigação sobre o passado da livraria dava uma boa história fantástica... :)

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  2. Essas coincidências são maravilhosas, mexem em coisas guardadas...
    Gostei muito.
    Ana Maria

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