quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Por que Não Mais que Sete?

Entrei e o restaurante se transformou em máquina do tempo. A cada passo na escada, os anos retrocediam. Os degraus me levavam à escola (e a escola se chamava Degrau). Nane e Alice me acompanhavam para não me deixar perder o rumo da viagem: o presente me dava equilíbrio.

Quando cheguei ao terceiro andar, Peggia e Adriane já estavam sentadas à mesa como duas crianças comportadas, os olhares ansiosos. As fotos que Peggia se apressou em mostrar deram rumo à conversa: a primeira comunhão em 1982, o pátio do recreio ainda sem cobertura. Adriane lamentava a ausência da filha, também Alice. Com febre, tinha ficado em casa com pai. A coincidência dos nomes pode ser uma pista de um imaginário comum: livros e sonhos de criança.

Assim que chegou, Joaquim já se chamava Kiko de novo. Trouxe o presente com Solange, mas deixou as três crianças dormindo em casa. Aninha apareceu com Bruno, Bernardo e as mesmas bochechas das fotos. Kiko e Aninha são pedaços de infância a que me agarrei para sempre, mesmo depois que a turma se separou, no fim de 1988, quando tivemos seguir novos caminhos em outros colégios.

O álbum com fotos da formatura da oitava série que encontrei na casa de meus pais rodou a mesa. Naquelas fotos antigas, desconfortáveis em corpos adolescentes, estávamos lado a lado, encostados em uma das paredes brancas do pátio da escola, sorrindo ou experimentando poses. Estávamos também na Igreja Santa Cruz de Copacabana, bem arrumados e compenetrados. E no play da Rua Martins Ferreira, o mesmo das nossas festas com gel e brilhantina.

Responsável pela realização do encontro, que aconteceu apenas um mês depois da criação do grupo no Facebook, Renato chegou com Fernanda, suas novidades e a vontade de estar junto de novo. Marcelo quebrou o gelo, trouxe o Projac com ele, e o encontro se transformou numa animada zorra de flashes.

Ali, as lembranças mais inusitadas se misturavam aos estresses mais óbvios do nosso dia-a-dia; passado e presente conviviam como se nunca tivéssemos deixado de nos encontrar, como se o cinema Condor ainda existisse, e um hambúrguer com refrigerante no McDonald’s da rua Hilário de Gouveia nos satisfizesse. Éramos goonies transformados em hobbits: como Sean Astin, guardávamos as mesmas feições infantis.

Éramos apenas sete naquela noite. Engraçado, isso me faz lembrar que, em algum bimestre de um ano qualquer, lemos um livro para escola que se chamava assim: Por que não mais que sete? Se não questiono, desejo: por que não mais? Haverá outros encontros, tenho certeza. E alguns virão de bem longe para matar saudades de um tempo que não se perdeu.

3 comentários:

  1. E qual era o nome do colégio?
    Lindo texto,
    Ana Letícia.

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  2. Gostei muito, Rodolpho. Também frequentei a Igreja de Santa Cruz e o cinema Condor.Onde era a escola Degrau? Neize

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  3. AGOORA QUE VÍ...CHOREI SÓ UM TANTINHO ME RECORDANDO...AFFF,QUANTA EMOÇÃO!!!NAQUELE DIA ESTAVA TÃO NERVOSA QUE NÃO FUI EU TOTALMENTE...OBRIGADA PELO9 CARINHO,RODOLPHO!!!!ADOREI SUA FAMÍLIA LINDA E PRECIOSA!!!!LINDO TEXTO!!!MAS EU SEMPRE SOUBE QUE VC ESCREVIA BEM,NÃO ME SURPREENDE!!!!FORTE ABRAÇO,PEGGIA AZAMBUJA.

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