domingo, 11 de setembro de 2011

Antes o Chá

Eram 7 horas da manhã de algum dia de novembro de 2007 quando chegamos ao aeroporto de Sapezal. Esperáva-nos um Cheyenne. O avião, que um dos engenheiros que nos acompanhava insistia em chamar de ataúde voador, era pequeno, não comportava mais do que os cinco passageiros que voltavam da viagem a campo, mas o apelido não se justificava: longe de parecer um teco-teco, o pássaro era pressurizado. Colaboravam o horário e as condições meteorológicas. Assim, pousamos em Cuiabá menos de uma hora depois, sem turbulências.

Como o aeroporto de Cuiabá fica em Várzea Grande, distante do Centro, optamos por aguardar ali mesmo os voos cujas partidas estavam marcadas para horários bem próximos, todos em torno das 11 horas. Aqueles que partiam para Belo Horizonte e São Paulo embarcaram sem contratempos. Com um atraso tolerável, meia hora talvez, os dois que restávamos fomos chamados para a sala de embarque. A fila já estava formada quando um funcionário da Gol solicitou que os passageiros que tivessem o Rio de Janeiro como destino final se apresentassem no balcão. Lá nos informaram apenas que seríamos remanejados.

Os minutos seguintes foram tensos, com os passageiros preteridos cercando os funcionários do check-in em busca de respostas que não fossem evasivas. Demorou até que nos calassem com um voucher para o almoço e a promessa de que embarcaríamos em voo agendado para as 16h30. Contudo, a notícia completa era um pouco pior: trocaríamos uma escala em Brasília por outra em Campo Grande com destino a Guarulhos, onde trocaríamos de aeronave para, enfim, chegar ao Rio. Se tudo se resolvesse assim, como prometido, menos mal.

No entanto, o voo demorou a sair, o avião ficou mais tempo em solo que o previsto na escala pantaneira e chegamos a São Paulo após a última partida para o Rio, às 23 horas e alguns irritantes minutos. A paciência já tinha acabado e as respostas ainda eram imprecisas. Picolés da Häagen-Dazs nos ajudaram a relaxar, enquanto o suspense ainda durava e as alternativas ficavam entre passar a noite em hotel pago pela companhia aérea e embarcar em voo extra, o que, por fim, acabou acontecendo. Um avião velho, com assentos com cheiro de mofo e estofado puído, levou para o Rio uns 20 passageiros extenuados, além de alguns funcionários da própria empresa de aviação.

Para não dar mais chance ao azar, dispensamos o táxi comum quando chegamos ao Galeão. Ali nos despedimos, um do outro e os dois do quase interminável chá de cadeira com asas. Um pouco antes das 2 horas da madrugada, girei a chave de casa, louco por um banho e ainda pilhado demais para dormir.

No início de dezembro, soubemos que três semanas tinham nos separado de uma sopa de flechas: índios tinham acabado de invadir uma das hidrelétricas em construção que havíamos visitado. Meses depois, eles voltariam para botar fogo em tudo.

Antes o chá que a sopa queimando a garganta.

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