terça-feira, 6 de julho de 2010

Toy Story

Amarante juntava palitos de sorvetes. Os palitos ficavam guardados numa caixa de sapatos, ao lado de uma caixa maior, cheia de carrinhos Matchbox. Nas tardes em dias de férias, ele tirava o álbum de figurinhas da estante e escolhia um circuito da Fórmula 1 para reproduzir no chão da sala de estar. Os palitos desenhavam os limites da pista. Por sua vez, os carros eram associados a pilotos e equipes numa folha de papel e, depois, perfilados na reta principal. Eram movidos a petelecos. A corrida demorava três ou quatro voltas. Os pontos eram distribuídos para os seis primeiros colocados e somados a cada grande prêmio. No fim da semana, Amarante tinha um campeão.

Amarante colecionava botões. Eram 24 times brasileiros, disputando, pelo menos, três tipos de campeonato. No início das férias, aconteciam os campeonatos regionais, com oito equipes cada, todos inusitados: o paulista-goiano; o carioca-pernambucano; e o restinho do Brasil. Depois, vinha um torneio disputado nos moldes da Copa do Mundo. As férias terminavam com o Campeonato Brasileiro em andamento, com três divisões, também de oito clubes cada. As rodadas finais acabavam se arrastando pelo semestre e os jogos ficavam restritos aos sábados ou domingos que não tinham programação especial. Num caderno com espiral, Amarante anotava os resultados das partidas, os artilheiros de cada jogo, e atualizava o ranking.

Amarante lia muitos livros e contava histórias. Elas eram montadas no quarto e podiam durar uma semana. O forte apache do Playmobil se escondia entre a cama e a parede. Ficava difícil abrir a porta do armário. As casas eram colocadas lado a lado criando uma rua fictícia de uma cidade qualquer do Velho Oeste americano. De vez em quando, o circo aparecia por lá e ficava impossível andar pelo quarto. Houve também a fase das naves espaciais, que tornou os enredos mais divertidos. As horas passavam sem que Amarante sentisse. Só a faxina semanal trazia o desmonte e fazia as peças voltarem para as caixas.

Amarante foi criança urbana. Não morou em vila. O prédio era antigo, não tinha sequer playground. Foi criança de escola e apartamento. O clube era só para a natação. A praia, para ver da varanda. Mas a infância de Amarante teve muita diversão. Os carrinhos, os botões e os bonecos que restaram podem confirmar.

E ele foi muito feliz. No entanto, sente falta hoje de tudo o que não viveu então. Hoje, quando não está brincando com a filha, Amarante quer brincar com o mundo, quer brincar você.

3 comentários:

  1. Eu aceito o convite!
    Vamos combinar???????
    Beijos

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  2. Amarante,
    Este é o meu favorito até agora.
    Abraço

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  3. Amarante jogava basquete no hall, ping pong na sala, lia livros de astronomia qnd passou o cometa Halley e de arqueologia qnd viu Indiana Jones....
    eu também,rs,rs,rs

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