domingo, 14 de junho de 2015

O Time Misto do Nacional

Aos 14 anos, saí da minha zona de conforto pela primeira vez. Como a escola que frequentava desde pequeno não oferecia turmas além da antiga 8ª série, tive que deixá-la para enfrentar todas as novidades de um colégio grande. No entanto, fez muito diferença sair junto com o meu melhor amigo da Escola Degrau, uma segunda casa, onde todos nos conheciam, para estudar no Colégio Santo Agostinho. Ali, demos sorte também com a organização alfabética das turmas, que colocou o Joaquim e o Luiz Rodolpho na mesma sala.

Fazendo parte de uma das turmas tecnológicas do 1º ano, naquele novo espaço, com quadras poliesportivas, corredores lotados de alunos, éramos estranhos facilmente confundidos com aqueles que chegavam da filial do colégio do Novo Leblon. Quando os alunos antigos vinham com perguntas sobre nossa origem, o nome da escola de Copacabana sempre causava um burburinho seguido de algumas risadas – Degrau era um conhecido restaurante do Leblon que ficava na mesma quadra do colégio.

No início da adolescência, o futebol ainda era o primeiro assunto para tentar uma aproximação. Iniciar uma conversa sobre os jogos de domingo, e declarar seu time no momento certo, sempre nos pareceu o caminho mais fácil para fazer novos amigos, já que na quadra não tínhamos muito o que mostrar. Mesmo assim, jogar futebol também era algo a ser conquistado. Ainda que por alguns minutos, esperando o rodízio, a “de fora”, a nossa vez, queríamos fazer parte daquele clube da bola e do Bolinha também.

A primeira partida de que guardo alguma recordação foi disputada em uma das quadras menores, a que ficava mais próxima ao coqueiro. Naquele jogo, depois de uma improvável troca de bolas, ouvi o que pensei ser uma palavra de aprovação do autor do gol: “Gênio”. Apenas algum tempo depois, vim a entender que podia ser também uma expressão de autoelogio do Fraga, a partir daquele lance, meu mais novo amigo. Em outra jogada qualquer, devo ter ouvido também, algumas frases incompreensíveis balbuciadas pelo goleiro Diuana, com as quais logo me acostumei.

Essa forma de tratar os amigos pelo sobrenome era uma consequência inevitável da arrumação das turmas em ordem alfabética. Eram tantos os Flávios, o Guilhermes, os Leonardos, que a única outra opção era um apelido, caso óbvio do zagueiro palmeirense do time, o Paulista. Ao menos, o Joaquim era único, e pôde deixar o seu apelido de infância na escola anterior. No meu caso, apesar de ter descoberto um xará na turma de humanas, fiquei mesmo como Rodolpho, esquecendo de vez o meu primeiro nome.

Mais cedo do que esperávamos, vestimos a camisa azul do Nacional, o time de futebol dos nossos amigos. E assim, passamos a farte parte daquele grupo, que contava também com o Luciano. Embora não estudasse mais lá quando chegamos para cursar o 2º grau, ele nunca se afastou do grupo. Por isso, a dúvida: se ele estava na quadra do colégio nas noites de sexta, no campo de futebol do sítio do Joaquim aos sábados e também em todos os campeonatos de botão na cobertura do Diuana, como não estudou comigo?

Em 2014 completamos 25 anos de amizade. O Clube do Bolinha já era. Essa amizade é compartilhada com nossas mulheres, que desde sempre foram grandes incentivadoras dos encontros do grupo. E hoje em dia são as crianças que nos dão mais motivos para estarmos juntos. Afinal, são 11 aniversários por ano.

E com 11 filhos, sendo cinco meninas, já conseguimos montar um time misto para a nova geração do Nacional.

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