quinta-feira, 6 de novembro de 2014

O Quadro Branco

O caminho de volta do trabalho, especialmente aquele que faço andando entre o metrô e a porta de casa, serve como um raro momento de reflexão no meu dia. É hora em que penso nas coisas de casa, naquilo que falta na geladeira, no almoço que pretendo fazer no sábado e nos estudos de Alice.

A ideia, portanto, não era nova, há algum tempo já me acompanhava na minha caminhada do fim de tarde. A decisão, porém, veio de supetão, porque chegou no instante exato em que eu passava na frente da papelaria ainda aberta.

Eu pedi um quadro branco, canetas coloridas e um apagador. A moça veio com duas opções de tamanho. Fiquei com o quadro maior, de 50 cm de altura por 70 cm de largura. Trouxe também diversas canetas. Escolhi as recarregáveis e o primeiro apagador que ela ofereceu.

Quando abri a porta de casa, fui recebido por olhares curiosos da filha e da mãe. Disse a Alice que, a partir daquele dia, iríamos estudar assim: sentados no chão com o quadro encostado na parede, as canetas espalhadas e toda minha vontade de tentar despertar nela o interesse pelos estudos.

E se o sucesso não foi absoluto, a novidade trouxe resultado: Alice deixou de lado a resistência habitual. Algumas vezes, chega a pedir para estudar. A continuar desse jeito, está muito bom. Também para mim: gosto mesmo de ensinar, curtir o tempo com ela, as letras e os números; Tiradentes, as planícies y los ojos negros – Alice adora espanhol.

As dúvidas que me restam dizem respeito ao que passa por aquela cabecinha: o que absorve de fato daquilo que tento transmitir (e não me refiro aos conteúdos); como vê a minha insistência e as minhas orientações. Sobre tudo isso, só tenho uma pista: um livro que ela escolheu no último domingo, O livro que explica tudo sobre seus pais, de Françoize Boucher.

Se ainda não tem opinião formada, se não absorve tanto quanto eu gostaria, se tem dúvidas, assim como eu, que importa? Alice já sabe onde procurar as respostas.

Um comentário:

  1. Ótimo. Ensinando por caminhos felizes e aprendendo de quem ainda só espia no saber.

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