domingo, 16 de fevereiro de 2014

Disney, 1986

Meu pai tinha um caderninho onde anotava as despesas de viagem. Fazia as contas depois de passar pelo 7-Eleven mais próximo para comprar o nosso café da manhã do dia seguinte: pão de forma, patê, geleia, leite ou achocolatado e, com sorte, algum iogurte.

Era dinheiro contado em tempos difíceis, de inflação galopante, de dólar muito alto. Pela primeira vez, ele abria mão de viajar com a família inteira, que costumava se apertar numa Brasília bege para curtir o mês de férias por aí, para chegar a diversos destinos sempre por caminhos diferentes: Foz do Iguaçu, Porto Alegre, Salvador. Para Orlando, fomos apenas eu, ele e minha irmã. Daquela vez, de avião, com escalas em Brasília, Manaus e Curaçao.

Minha mãe acabou ficando em casa com o meu irmão mais novo.

Tenho poucas recordações dos parques, alguma do Epcot, quase nenhuma de personagens e muita daquela tensão constante que meu pai carregava sobre os ombros. Os motivos podiam ser as contas, a responsabilidade solitária pelos filhos pequenos, os brinquedos mais radicais (de que também não gosto), as falhas na organização da operadora da excursão.

Lembro-me, por exemplo, que não fomos a Bahamas, embora estivesse programado.

E que, numa daquelas noites, Dominique se perdeu no hotel.

Por outro lado, houve momentos de gargalhadas por causa da voz da Srta. Topisco, da série A Gata e O Rato; houve a divertida torcida pelo time vermelho no jantar do Medieval Times.

Houve também uma noite de quase zero grau em Miami.

A mais clara memória que guardo, no entanto, é da visita ao Cabo Canaveral, da caneta que funcionava no espaço (meu brinquedo favorito) e da Challenger. Dela não pudemos nos aproximar porque seria lançada dali a alguns dias. Na foto que tiramos, o ônibus espacial é só um traço no horizonte.

Soubemos da explosão quando estávamos em Miami. O acidente que matou sete astronautas, inclusive a primeira civil a participar de uma viagem ao espaço, aconteceu no dia 28 de janeiro do ano em que fui a Disney – segundo a pesquisa que fiz agora na Internet, exatamente aquele da noite mais fria.

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