quarta-feira, 1 de maio de 2013

Ciúmes

Eram duas bolas tricolores. Era assim para evitar o ciúme entre irmãos. E o palco era a Lagoa Rodrigo de Freitas, de um memorável Fla x Flu. Ali, jogamos nossa primeira partida de futebol. Segundo as contas do meu afilhado, ele venceu por tantos gols quantas bolas foram parar na água naquele jogo de mais de setenta anos. Pedro vestia outro presente: uma camisa grená com o escudo branco e os dizeres óbvios – Eu sou tricolor. Meu pai diria que a partida tinha sido um jogo de titulares contra aspirantes do mesmo Fluminense.

Enquanto isso, Alice se divertia com as mães.

Pedro acabou deixando o irmão menor e as bolas tricolores, veio conosco para casa, e naquele dia brinquei de ser pai de menino. Na TV escolhemos desenhos de super-heróis. Sem largar o boneco do Hulk que havia trazido, me apresentou a versão troncudinha e diminuta de alguns vingadores em programas de vinte minutos, passados um atrás do outro. Quando ele desistiu dos filmes para simular brigas entre seus bonecos, criamos um novo herói: o Hulk perdeu a cabeça, ficou só pescoço e se transformou no Cara de Galinha.

Enquanto isso, Alice se distraía sozinha.

Depois, voltamos ao futebol e chamamos Alice para brincar. A mesa de botão saiu de trás do armário e foi para o chão. Pedro quis os tricolores. Alice também. Ele não sabia ainda como pegar na palheta. Ela quis mostrar que sabia. Um jogo de infantis contra os dente-de-leite, diria papai. Outro jogo em que o resultado era o que menos importava. Contudo, a cada vez que o dadinho encontrava a rede, Pedro me dirigia um olhar inquisidor antes de perguntar: foi gol?

Quando ele perdeu o interesse, Alice resolveu falar:

– Pai, agora é a minha vez. – O cenho franzido e os dedos apertados entre as mãos diziam tudo, mas ela precisava esclarecer – Você passou o dia inteiro brincando com o Pedro. Eu sou sua filha. Agora você vai brincar comigo.

Se Pedro se lembrará desse dia, não sei. Eu não vou me esquecer e espero repetir muitas vezes. Será mais fácil agora que seus pais estão voltando para o Rio depois de mais de oito anos de vida paulista.

Alice já esqueceu.

No dia seguinte, quando a convidei para sair, para comprarmos juntos um lanche gostoso, ela não deu bola, respondeu que estava cansada. E com dor no pé.

3 comentários:

  1. Shiiiiiii Eu acho que a Alice está precisando de um irmãozinho!!!

    ;p

    ResponderExcluir
  2. Mais uma vez, uma deliciosa e emocionante história que leio aqui. Tenho certeza de que Pedro não vai esquecer e que ainda terá muitos maravilhosos momentos brincando com o Padrinho assim que chegarmos de nossa aventura em SP....transmita meus sinceros agradecimentos a Alice por ter cedido esse precioso tempo :)
    Mais.... Mais....Mais....
    Afetuoso abraço,
    Pai do Pedro.

    ResponderExcluir