domingo, 17 de março de 2013

Um Perfil Curioso

Manoel de Barros diz que poesia não é para compreender, mas para incorporar. O conceito vale para arte de forma geral. É coisa íntima, às vezes inexplicável. Por isso, sou capaz de juntar na minha lista de preferências livros tão diferentes quanto Sagarana de Guimarães Rosa e A Peste de Camus. Ou filmes, como A Outra História Americana, de Tony Kaye, que tem uma fantástica atuação de Edward Norton, e Primavera, Verão, Outono, Inverno... e Primavera, de Ki-duk Kim.

Os livros citados foram lidos na adolescência, junto com os tantos de espionagem que eu adorava e aqueles da série Vagalume que marcaram a minha geração. Com Sagarana, descobri prazer numa leitura mais lenta, aprendi a valorizar a linguagem e a arte do texto. A Peste me fez pensar como nunca, e acabei envolvido pelas questões do Doutor Rieux e do Padre Paneloux. O livro de Camus, aliás, é um dos raros que li duas vezes, em tempos diferentes, mas com emoções parecidas.

Nos tempos de estudante de engenharia, e mesmo nos primeiros anos de formado, muito dedicado aos estudos e ao trabalho, foi mais fácil optar pelos filmes e também pelos contos. Naquela época, em que li toda a coleção Mar de Histórias e misturava Mia Couto com Raymond Carver (um dos poucos que me fez chorar), assisti ao filme de Tony Kaye. A violência que fazia algumas pessoas abandonar o cinema não tirou minha vontade de aplaudi-lo de pé. Mesma sensação de deslumbre que tive em casa com o filme coreano.

Em meio às coletâneas de contos, ainda antes de minha filha nascer, voltei a buscar leituras mais longas: Crônica de uma Morte Anunciada, de García Marquez, me trouxe de volta a vontade de escrever; Memorial do Convento, de Saramago, a leitura de romances; e O Senhor dos Anéis, as madrugadas insones.

Nenhuma das preferências relacionadas até aqui, porém, falam tanto de mim quanto os livros que gostaria de ter escrito e os filmes que gostaria de ter feito. Tentando fazer uma lista deles, deparo-me com um perfil curioso: sou judeu e argentino. Amós Oz, Jonathan Safran Foer e sua mulher Nicole Krauss provocam em mim a urgência de mergulhar na história da minha família, especialmente a que está ligada às raízes católica e francesa. Por outro lado, é à maneira argentina dos filmes estrelados por Ricardo Darín que gostaria de construir meus diálogos e caracterizar relacionamentos.

Pantera no Porão, de Oz, Extremamente Alto e Incrivelmente Perto, de Foer, A História do Amor, de Krauss, e o filme Kamchatka têm em comum o ponto de vista da criança curiosa que ainda sou. Ela é protagonista ou narradora de quase tudo o que escrevo.

2 comentários:

  1. Ah essas influências que nos marcam e encantam...que sorte a nossa.

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  2. Adorei Crônica de uma morte anunciada.Livros e filmes influenciam bastante a gente, direcionando nossas escolhas vida afora.

    Ana Maria

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