terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Pontos de Vista

A experiência da recente cirurgia por que Alice passou pode ser contada sob dois pontos de vista: o da ansiedade dos pais e o da coragem da filha. Como pretendo escrever um texto informativo, optei por seguir a primeira linha. Eram as nossas dúvidas permanentes que explicavam tanta ansiedade. Afinal, já convivíamos com o problema havia sete anos e nunca tivemos certeza de que estávamos lidando com ele da melhor forma possível.

Foram médicos diferentes, por exemplo, que fizeram as sondagens no canal lacrimal do olho direito já que as massagens não faziam efeito. Na primeira, Alice tinha apenas sete meses. A segunda sondagem foi realizada seis meses depois, durou mais tempo que a primeira e exigiu uma sedação mais pesada. Como os procedimentos não tiveram sucesso, aprendemos a conviver com lenços de papel, chumaços de algodão molhados com soro e colírios para os momentos de infecção. Tobrex foi o primeiro deles.

Acontecia o seguinte... Como havia alguma obstrução no canal, as lágrimas não escoavam em direção ao nariz. O líquido acumulado perto do olho provocava um lacrimejar constante e tornava o local suscetível às infecções. Quando estas ocorriam, as lágrimas ficavam cada vez mais espessas até ganhar uma coloração amarelada. Às vezes, Alice acordava com os cílios grudados e o olho fechado. E, se a infecção se agravava, a olheira chegava a ficar avermelhada. No entanto, o uso de colírios sempre resolveu (já usávamos o Biamotil) e nunca tivemos que enfrentar algo pior.

Não deixamos, porém, de procurar oftalmologistas, especialistas ou não, dentro ou fora dos planos de saúde. Alguns deles, menos sensíveis, chegaram a nos assustar com as descrições da solução cirúrgica, que envolveria quebrar o osso do nariz, e associações entre o uso frequente de colírios e o risco de glaucoma. Outros nos indicaram um procedimento chamado dacriocistografia, que consiste basicamente de um exame feito com contraste para identificar o local e a extensão da obstrução. Como exigia sedação, foi difícil encontrar uma clínica que fizesse. Acabamos deixando essa ideia de lado.

Passamos ainda por uma inusitada entrevista em que o doutor, quase aposentado, muito desinteressado, sequer olhou para a criança que acabara de completar 5 anos. Felizmente, pouco tempo depois, o pediatra da Alice nos indicou o Dr. Carlos, que nos deu esperança de que ela pudesse escapar da cirurgia e nos reensinou a massagem. Voltamos também ao Tobrex. E, de fato, durante os 9 meses seguintes, a frequência das infecções diminuiu bastante, contudo, somente até o inverno chegar com os resfriados, o nariz entupido e as secreções.

Em dezembro passado, voltamos ao Dr. Carlos. Ele futucou o canal lacrimal com uma seringa enorme e, com outra, injetou uma quantidade considerável de soro, mas Alice não sentiu o líquido descer pela garganta. Levando em conta todo o histórico, acabou dando o braço a torcer. Para fazer a cirurgia, indicou um antigo professor que, por sua vez, nos fez chegar ao Dr. Leonardo. E todos acharam o exame com contraste dispensável.

A decisão foi tomada rapidamente porque precisávamos aproveitar o período de férias e dar tempo para Alice se recuperar antes do início das aulas na nova escola. Sofremos com os procedimentos burocráticos, principalmente do plano de saúde, que vimos agravados pelo fato de que a equipe médica não era cooperada. Chegamos inclusive a assinar um absurdo termo de ciência, onde nos responsabilizávamos pelos honorários e por quaisquer problemas resultantes da cirurgia. Era condição para a autorização.

Alice foi operada às 19 horas do dia 22 de janeiro na Clínica Pediátrica do Centro Médico da Barra. A nossa espera angustiante no quarto durou cerca de 2 horas e a dacriocistorrinostomia, cerca de 50 minutos. Quando retornou, Alice chorava e tremia muito. Era efeito da sedação. Recebeu alta na mesma noite e, assim, às 23h30 já estávamos em casa. Só reclamou de alguma dor na mesma noite e na manhã seguinte. Com três pontos no contorno da olheira arroxeada, foi inevitável a identificação com a Frankie Stein, boneca da coleção Monster High. Isso resolveu em parte o problema da vaidade e da vergonha de sair de casa.

Ela tirou os pontos uma semana depois. Permanece com um tubinho de silicone quase imperceptível dentro do novo canal lacrimal e que deve ser retirado dentro de um mês. O tubo dá forma ao canal e evita que ele se feche com a cicatrização. Não há garantia que a solução funcione para sempre. No entanto, se tiver que repetir o procedimento, o caminho através do osso do nariz já está feito.

Agora não há quem pergunte se ela chorou ou por que estava chorando. Não há remela para espantar ninguém. Alice não sofre mais com a nossa intromissão insistente para a limpeza do olho, nem usa colírios. Está muito feliz; e nós, pais, bastante aliviados.

4 comentários:

  1. Não sabia disso, cara...que bom que deu tudo certo!

    Abração,

    Rodrigo Altaf

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  2. Feliz que tudo tenha dado certo. Beijos.

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  3. Maravilha Rodolpho!
    Belo relato. Tomara que o problema da Alice tenha sido resolvido em definitivo.
    Forte abraço,
    Pedro Trindade

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  4. Oi, Rodolpho,

    Tenho certeza que esta cirurgia será a única. O problema já está sanado. Lembro-me da cirurgia do meu filho mais velho, nos olhos, 9 quistos. O médico falou que poderiam voltar, mas não aconteceu. Ele tinha tres anos.
    Bacana a narrativa.
    Forte abraço,
    Ana Maria

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