domingo, 12 de fevereiro de 2012

Jogo de Reservas

Quando Petit deu nome francês àquela grande vitória, canarinhos sem rumo começaram a telefonar em busca de tarifas promocionais para seus voos.

– Reservas Rio Sul e Nordeste, Richard em treinamento, boa noite!

O amigo que conheci no curso preparatório foi o primeiro a atender. Com o dedo pronto para aceitar a chamada, eu esperava minha vez. Faltavam ainda alguns minutos para o fim do expediente.

Horas antes tínhamos ocupado as baias internas para assistir ao jogo. Acreditávamos que poucos se atreveriam a aproveitar as horas de alienação coletiva para garantir uma reserva com tarifa promocional. Ainda assim, mal virávamos as cadeiras; para que os nossos olhos alcançassem a TV, nossos pescoços sofriam um pouco.

Minha história como agente de reservas foi curta, durou cerca de três meses. Eu me aborrecia porque odiava falar ao telefone, porque não sabia bem o que fazer com o diploma de engenharia, porque as folgas eram raras naqueles tempos de tanta oferta. Ser obrigado a ver os jogos do Brasil no trabalho me entristecia, estava longe das companhias habituais: a namorada, os amigos e a família. Em se tratando de uma final em Paris, contra a França, eu me sentia ainda pior. Daria qualquer coisa para estar em casa ao lado da minha avó.

Quando perguntavam por qual seleção torceria, Mami se limitava a dizer que queria ver os netos felizes; afirmava também que aquela seleção não era lá muito francesa. Eram formas de desviar o assunto: ela não trocaria nada pelo prazer de ouvir a Marselhesa vitoriosa cantada no Parc de Princes

Em 1998, a minha final ideal enfim aconteceu. Alimentado pela seleção de Telê e o futebol de Platini, o sonho transformado em realidade trazia consigo emoções conflitantes também para mim. Eu torci pelo Brasil com a certeza de que a vitória da França de Zidane seria bem mais que um consolo. E lamentava muito não estar ao lado da Mami para presenciar suas reações discretamente emocionadas.

Naquele domingo, parte de um bom time de reservas, torci pelo Brasil como neto de francesa

2 comentários:

  1. Ótimo, Rodolpho.
    Ana Maria

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  2. Boa tarde , sua famila é que era proprietaria da Livraria Sauret no Copacabana Palace ? Conheci esta loja inicio dos anos 50 quando meu pai ia comprar o seu Paris Match.

    Boas recordações desta livraria !
    Claude Fondeville
    cmmf46@yahoo.com.br

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