quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Catapluft

Deitei a mão esquerda sobre o despertador ao primeiro toque, a palma acionando a função soneca para prolongar a minha preguiça por mais 8 minutos. Porém, ao mesmo tempo, o polegar consciente empurrou o botão que desligava o alarme e abriu o parêntese.

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Naquela época, eu tinha uma pequena tarefa a cumprir e, àquela hora, o aparelho conseguia tirar-me da cama, coisa que nem o choro da criança conseguia fazer nas horas escuras da madrugada. Às 7h30 eu me levantava, ia ao banheiro e dali para o quarto dela, um bebê ainda, que costumava abrir os olhos assim que eu entrava e fazer alguns muxoxos depois de me ver.

Ela já sentava, não falava e, por isso, nós nos surpreendíamos a cada dia com a capacidade de compreensão daquela pequena criatura. Eu já sabia que os bebês se sentem seguros com os rituais; então dizia sempre assim, depois do sorriso e do bom dia: vamos trocar a fralda, minha filhinha. Entre a pergunta e a afirmação, era uma espécie de convite que chegava de braços esticados, os mesmos que a levavam para o trocador.

Lá, ficava sentadinha, esperando uma palavra mágica: catapluft era a senha para ela se deitar com a ajuda das minhas mãos, e o aviso de que a desagradável seção de limpeza estava para começar. Era, de fato, uma invasão e eu me sentia na obrigação de pedir licença. Assim, eu antecipava todos meus movimentos: vou tirar a fralda, fofinha; agora é hora de limpar o bumbum... Também não me esquecia de repetir meu pai: fazer um sanduíche de pezinhos com manteiga, queijo e presunto para tascar uma suave mordida.

Tarefa cumprida, colocava meu bebê no colo e íamos até a porta do quarto, onde conversávamos com a bonequinha de cabelos amarelos e vestido lilás, que está ali até hoje, pendurada no banquinho, logo abaixo de uma placa que marca o território com o nome dela. Eu costumava repetir as sílabas para a minha filha enquanto o meu indicador percorria as letras e fechava o parêntese.

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Como eu ia dizendo, deitei a mão esquerda sobre o despertador... e cumpri os passos da minha tarefa rotineira até colocar Alice sentada no trocador. Naquele dia, quando anunciei o catapluft, ela não esperou pelas minhas mãos: abriu um sorriso e se jogou para trás.

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