domingo, 6 de junho de 2010

Tiquetonne

Ligeiramente trêmulos, os dedos tocaram meu braço com a força da lembrança. Tiquetonne. O quê? O nome da rua em que morei. Mais alguma coisa? Uma referência? Faz tanto tempo. Eu me lembro dos Correios.

A viagem para Paris começou muito antes. Num devaneio, da vontade, quase da necessidade. Começou quando tirei um livro da estante. Para ler em francês, coisa que não fazia há mais de 6 anos. Sobreviveu quando minha irmã não perdeu a oportunidade e quebrou o tabu da família que jamais voltou. Recomeçou quando juntos decidimos planejar, comprar as passagens e planejar de verdade. Para viajarmos os dois, para vivermos nossas realizações juntos, para curtir de novo, como antes, e renovar.

A emoção da realização veio logo após a chegada no hotel. Perto da torre às 19 horas, com céu azul e calor. La tour Eiffel. Logo ali, cada vez mais próxima. E nós dois, bobos de emoção. Bobos também por termos demorado tanto a chegar ali. Chegamos sorrindo, fotografando tudo, gastando pilhas sem contar. A torre e o Sena. Paris estava diante de nós.

Os Correios surgiram na manhã do terceiro dia, depois de deixarmos o Louvre. Estava explicada sua resistência em memória tão frágil, com 95 anos de idade e 75 anos de saudade. La Poste e, em seguida, Tiquetonne. A rua estreita, com lojas moderninhas, restaurantes abundantes. Ali fizemos a mais francesa das refeições, cercados de franceses, confundidos com franceses. Por segundos, até o vocabulário falhar.

Quantas coisas deixei de lado nos últimos anos! Uma viagem pode ser o caminho para a redenção? A viagem certa, desejada, pode nos fazer recuperar as palavras que perderam o sentido por mera falta de uso. Ou mau uso retórico. Em francês, eram tantas as que se tornavam subitamente óbvias. Em português, eu só precisava dizer “te amo” com os olhos e os dedos entrelaçados.

Ali, eu estava em casa. Feliz.

3 comentários:

  1. saudades de Harry!!!
    chorei, claro.........
    me pegou logo hoje, último episódio de Glee, não pude conter as lágrimas!!
    feliz-cidades, aqui, Paris, and everywhere!!!

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  2. Filho,
    Temos que nos permitir quebrar paradigmas para ir de encontro à felicidade plena!
    Não espero nada de diferente, vindo de você!
    Beijos

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  3. Neidoca: protesto!!
    comenta meu blog também, poxa vida!!!

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