domingo, 12 de julho de 2015

As Cerejas do Bolo Francês

Já tinha desistido de assistir a um jogo de Copa do Mundo no Brasil quando meu amigo Joaquim veio com a surpresa. A verdade é que não me empenhei muito para conseguir os ingressos. Apesar de gostar muito de futebol, o Fluminense sempre foi mais importante para mim que a seleção. Além disso, em se tratando de evento, sempre fui mais fascinado pelas Olimpíadas do que pelas Copas. Acho que, por isso, só entrei no segundo sorteio da Fifa e evitei as madrugadas na fase de vendas residuais.

Ainda assim, se pudesse escolher uma seleção para ver, os meus amigos sabiam que seria a França, sobretudo por causa do aniversário de 100 anos da minha avó, mas também por todas as vezes em que torci por Platini e Zidane, dois de meus jogadores preferidos. A partida contra o Equador na primeira fase parecia ser a melhor das oportunidades, já que seria no Maracanã, mas o presente que ganhei acabou me levando a Salvador.

Acordei antes da 6 da manhã, vesti a mais bonita das camisas azuis e chamei o táxi enquanto tomava café e comia um brioche com queijo. A caminho do Galeão, o taxista me perguntou se era bate e volta, segundo ele, fato comum naqueles dias de Copa. Joaquim e Antonio, seu filho, já estavam no aeroporto quando cheguei. Imbuídos do melhor sentimento que esses encontros podem proporcionar, eles levavam consigo bandeiras da Suíça e da França.

Desembarcamos antes das 10 horas na capital baiana, preocupados com o deslocamento até o estádio. O motorista que nos esperava nos tranquilizou. Contou que a cidade não estava muito cheia porque era feriado de Corpus Christi, e os soteropolitanos tinham aproveitado a data para curtir as festas juninas do interior. Tínhamos assim tempo de sobra para passear no Pelourinho e comer acarajé antes do jogo.

Ao contrário do Maracanã, que se tornou para mim uma arena acanhada depois da reforma, a Fonte Nova que encontramos parecia ter mantido as características de um grande estádio. Permanecemos sentados até a partida começar tomando refrigerantes caríssimos nos copos que acabariam como as únicas lembranças materiais daquele dia. Todas as outras, melhores e inesquecíveis, ficariam guardadas na minha memória – a começar pelo hino francês.

Joaquim entendia bem o que significava para mim estar ali, cantando a Marsellaise alguns dias depois do centenário da Mami – era o desfecho de uma comemoração que tinha começado numa viagem de férias menos de dois meses antes, quando levei minha filha a Paris pela primeira vez e, em seguida, desbravei a Normandia sozinho. Uma comemoração que me aproximava da história dela e de todos os significados que aquele hino me trazia: resistência, saudade, honra e orgulho.

As cerejas do bolo foram os gols marcados pelos franceses naquele dia, na incrível goleada de 5x2 contra os suíços.

Um comentário:

  1. Amei o texto. Que bom que na Copa, você teve essa alegria, ao contrário de muitos brasileiros!

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