domingo, 4 de agosto de 2013

A Pequena Cinéfila

Alice ganhou um iPod de aniversário, e uma de suas mais novas diversões é brincar com o aplicativo do IMDB. Ela procura pelo filme a que acabou de assistir, identifica uma determinada atriz, por exemplo, e passa o tempo descobrindo em que outros filmes ela atuou. Foi assim com Catherine O'Hara: depois que vimos Beetlejuice, digitou “Fantasmas” e deu com Esqueceram de mim.

Aproveitando suas férias, preparamos uma programação de filmes que julgamos adequados para a idade dela, dando preferência ainda às nossas melhores lembranças de infância. Alguns deles, claro, adequados apenas com a nossa orientação. O próprio filme do Tim Burton, aliás, está longe de ser óbvio para uma criança de oito anos.

O que me deixa muito feliz é que Alice topa qualquer coisa. Mesmo que nem sempre pareça conectada à história, enfrenta ritmos e temas diferentes sem rejeições. No fim das contas, vale a pena arriscar. Por isso, fico mais tranquilo com as suas pequenas manias, como a Violetta, série do Disney Channel que faz questão de ver todos os dias – por causa da protagonista, sua mais recente obsessão é conhecer Buenos Aires.

Uma das experiências mais interessantes que tive com ela foi assistir a um filme iraniano chamado Filhos do Paraíso. À cena inicial do sapatinho, cujo conserto dura mais que o suficiente para uma criança pouco habituada à poesia, reagiu assim: É só isso? Não vai acontecer nada, pai? Pedi que tivesse paciência e fomos juntos até o fim. O filme é excelente, traz com simplicidade lições muito positivas e oferece também a oportunidade de contato com uma cultura e uma realidade econômica bem diferentes das que ela tem.

Outra de minhas tentativas foi Kamtchaka, filme argentino de que gosto muito. Para ela, o exército era a polícia, e quis entender por que a família estava se escondendo já que a função da “polícia” era protegê-los. Expliquei à minha maneira, evitando sentenças definitivas que pudessem alimentar a sua insegurança. Sobre a última cena, quando os pais se despedem dos filhos, Alice concluiu sozinha que eles nunca mais se veriam. Quis confirmar, e eu preferi não criar ilusões.

No fim de semana passado, da visita do Papa Francisco ao Rio de Janeiro, Alice me encheu de porquês durante a exibição de Irmão Sol, Irmã Lua e deu muitas gargalhadas com Mr. Bean. Ontem, depois de uma passadinha na Livraria Cultura, fomos a uma sessão infantil do Anima Mundi no Odeon. Hoje, ela é a minha melhor companhia.

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